Liberdade *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 6 de Janeiro de 2012
1. Este ano áspero que agora se encerta terá que ser aqui contado neste jornal. Que o Jornal do Centro seja uma voz inconformada com este eucaliptal domesticado em que se tornou Viseu no ano de 2012.
Foi calada a Rádio Noar, a informação do Jornal da Beira não faz justiça ao espírito aberto e admirável do bispo Ilídio Leandro, as escolas superiores olham para o umbigo, a assembleia municipal de Viseu não existe, na câmara a oposição seguiu o exemplo de Miguel Ginestal, desonrou o voto que recebeu dos viseenses, e foi tratar da vidinha.
Ou estamos engarrafados nas estradas nacionais, ou estamos a ser esbulhados na A24 e A25 onde as portagens têm preços que fazem as do litoral parecerem baratas. As nossas empresas estão a falir ao mesmo tempo que é dado este golpe brutal na economia e mobilidade da região.
O distrito dorme pastoreado pelo vazio: nenhum deputado na assembleia da república, dos nove eleitos com os nossos votos, nenhum votou contra as portagens do sr. Pedro Passos Coelho, do sr. Álvaro e do sr. Paulo Campos. Nem um.
2. «A Beira não tem símile no mundo. Em poucas dezenas de quilómetros está representado o mundo todo: amenidade e braveza, a montanha e o vale, a civilização e a selvajaria», isto foi dito em 1952 por Aquilino Ribeiro a um jornal do Rio de Janeiro, jornal que rematou a entrevista perguntando-lhe: «O que mais preza no mundo?»
Respondeu o mestre: «A liberdade. Sinto que o homem moderno precisa dela como do ar que respira e que sem ela não há alegria, nem prazer, nem honra.»
Seis décadas depois, nesta Beira insímile, os de cima estão atafegados pelo seu percurso de compromisso e fouxidão.
Que haja, em 2012, “braveza” nos de baixo, que os de baixo respirem o “ar” da liberdade. E que este jornal, ao menos ele, lhes dê voz. E músculo.
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