Gotham City e os euros da bazuca*

* No Jornal do Centro aqui 

1. Talqualmente a ficção, também a política precisa sempre de um vilão. É necessário arranjar sempre um mau contra quem lutar. 

Ora, nestas eleições, Rui Rio tem complicado o trabalho em que a esquerda se especializou nos últimos anos: o fabrico de inimigos. O líder laranja é muito cordial com os adversários, dá-lhes razão muitas vezes. Nunca levanta a voz. 

Diabolizar Passos Coelho ou a cavacal figura é facílimo. Qualquer estagiário nas madraças do bloco de esquerda faz isso com uma perna às costas. Mas, como fazer do dono do Zé Albino o terrível dos filmes? 

Consciente dessa dificuldade, António “Batman” Costa tem tentado pôr o presidente do PSD no lugar do Joker — como se sabe, um vilão com sentido de humor. Só que Rui Rio faz-lhe a vontade não a fazendo. Isto é, ri-se muito, publica uns tuítes bem-dispostos, não dá grande troco às provocações e lá segue para a arruada seguinte.

Como as coisas agora vão bipolarizar entre os líderes do PS e do PSD,...

Daqui

... vamos lá ver o que nos reserva a última semana de campanha em Gotham City.


2. Enquanto, no parlamento, decorria o debate e a votação do orçamento de estado, que resultou nesta crise política estúpida que estamos a viver, uma equipa do ISC/ISCTE foi para o terreno fazer a seguinte pergunta aos portugueses: “como é que vai estar o país em 2030?”

Esta sondagem, que foi publicada no Expresso em 20 de Novembro, foi feita para se saber quais as expectativas dos portugueses sobre os próximos nove anos e o que eles pensam que vai acontecer aos milhares de milhões de euros que hão-de vir da “Europa”.

O título que o Expresso escolheu para a divulgação dos resultados diz tudo acerca dos resultados da sondagem: “Década perdida? Portugueses sem fé”.

Em 2030, os portugueses esperam ter: 

— mais divisões políticas (52%);

— mais desemprego e precariedade (54%);

— mais problemas ambientais (55%);

— mais despovoamento do interior (58%);

— mais desigualdade entre ricos e pobres (66%);

— mais dívida pública (69%);

— mais impostos (77%).

Perante tanta desesperança, brinquemos um pouco:

— atenção!, aqueles 42% de portugueses que acham que o interior não vai perder mais gente vivem todos no litoral; 

— atenção!, aqueles 23% que crêem que os impostos não vão aumentar acreditam também no pai natal.

De qualquer forma, mesmo com as expectativas tão em baixo, é bom saber-se que, segundo esta sondagem, “86% dos portugueses estão convictos de que Portugal continuará na UE, 85% de que o regime continuará democrático”. 

A esperança no futuro é pouca, mas os portugueses sabem com muita clareza que enquanto vierem cheques de Bruxelas esta nossa terceira república não acaba como a primeira.

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