Algoritmos*
* No Jornal do Centro aqui
1. O filme “Nas Nuvens”, realizado por Jason Reitman e protagonizado por George Clooney, foi lançado nos Estados Unidos nos finais de 2009 e estreou em todo o mundo no início de 2010.
Clooney faz o papel de um viciado em viagens de avião, um homem que anda literalmente “Up in the air” (o título original do filme) a despedir pessoas. É um despedidor activíssimo. Que poupa aos patrões o melindre de terem de dizer, olhos nos olhos, a um seu empregado: «não preciso mais de si!»
Clooney é um bom actor. Se o papel é para ser frio como uma pedra, ele vira calhau de gelo, ele usa o catálogo completo dos eufemismos para aquela situação, ele doura por completo aquela pílula amargosa. As várias cenas de despedimento do filme têm uma dose de realismo extra: foram rodadas com pessoas que tinham acabado de viver na pele aquela situação por causa da crise financeira do subprime.
A história dá muitas voltas. A certa altura, aparece uma tecnocrata ainda mais glacial do que Clooney, que vai abanar os fundamentos da vida dele. Ela quer impessoalizar ainda mais os despedimentos, quer que eles passem a ser feitos por vídeo-conferência. A mulher é uma visionária: já sonhava com o “Zoom” muito antes da Covid.
Vi o filme na altura da estreia, já não me lembro se aquele gelo entre os dois foi derretido na cama, nem importa muito para o caso. Fiquemos neste ponto: o despedidor-mor em risco de ser despedido por causa de um avanço tecnológico.
2. Os despedimentos da TAP foram entregues a uma empresa norte-americana, a Boston Consulting Group, que desenvolveu um algoritmo que “inputa” os parâmetros “produtividade, absentismo, experiência, contributo, custo e habilitações” de cada um dos trabalhadores e “outputa” quem continua a voar e quem é ejectado daquela companhia aérea.
O ministro Pedro Nuno Santos afirma que este “é um método que garante maior imparcialidade na gestão desse processo”. Por sua vez, os sindicalistas vêem nele “uma artimanha inventada pelas consultoras e advogados de turno”.
Dá para perceber a evolução dos tempos. Agora, empregos “nas nuvens” como o de Clooney já não há. Agora, os “algoritmos” fazem esse trabalho sujo. É o chamado “progresso”. Que o ministro prefere. Não o reprovo por isso. Ser ludista não adianta, não é solução.
Contudo, progresso a sério, progresso dos bons será quando houver um “algoritmo” que despeça a chamada “grande advocacia de negócios”, esse cancro rentista que está sempre presente em todos os negócios do estado. Que factura sempre com todos os nossos desastres financeiros e, portanto, também no buraco sem fundo chamado TAP.
3. Como se sabe, o candidato socialista à câmara de Viseu está internado com problemas cardíacos.
Caro João Azevedo, força! As melhores melhoras. Completas e rápidas. Saúde primeiro. Política depois.
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