Baixa densidade*

* Hoje no Jornal do Centro


1. O politiquês, esse dialecto do politicamente correcto, deixou de chamar “interior” à parte do país a que não chega o cheiro do mar e agora prefere chamar-lhe “território-de-baixa-densidade”.

Já se sabe, os políticos são palavrosos, podendo usar quatro palavras não vão usar só uma e a nova designação faz algum sentido. Onde não chega o iodo e a maresia é cada vez mais baixa a densidade de serviços de saúde, de estações de correio, de agências da CGD, de transportes públicos com passes fofinhos, de estradas decentes não-portajadas.

2. O PS, o vencedor anunciado das próximas legislativas, dedica quatro páginas do seu programa eleitoral à “coesão territorial” onde se propõe “tomar medidas” para o “desenvolvimento harmonioso de todo o país, com especial atenção para os territórios de baixa densidade”.

Em sete sub-capítulos, cheios de clichês, são elencadas cinquenta “medidas” que querem “apostar no potencial” e “apoiar o aumento”, para além de “incentivar o surgimento” e “reforçar o diferencial”, de forma a “promover a obtenção” e “incorporar o desígnio”. Algures, claro, lá surge também o inevitável “incentivar o empreendedorismo”.

É uma lista de cinquenta eufemismos, escritos em língua-de-trapo, sem nenhuma quantificação ou calendarização, sem nenhum pensamento operativo sobre as cidades médias ou sobre o mundo rural, sem nenhum incentivo fiscal nem em IRS, nem IRC, nem IMI, sem nada palpável capaz de atrair pessoas ou investimentos para o interior.

3. À hora que escrevo este texto ainda não se sabe se o distrito de Viseu vai eleger oito ou nove deputados e também ainda não se conhece a lista do PSD.

Lúcia Silva e Rosa Monteiro
Já foi divulgada a lista socialista onde, em segundo lugar, em vez da secretária de estado Rosa Monteiro, o aparelho prantou Lúcia Silva. Percebe-se a lógica da batata da distrital socialista: para um “território-de-baixa-densidade”, uma deputada com densidade política equivalente.

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