Vetocracia*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Em Washington, os pesos e os contra-pesos constitucionais estão a anular-se uns aos outros. Francis Fukuyama descreve assim este fenómeno: “os Americanos têm muito orgulho numa constituição que limita o poder executivo numa série de controlos. No entanto, esses controlos metastizaram-se. E agora a América é uma vetocracia.”

Daqui
O sectarismo dos dois partidos do poder impede que eles cheguem a compromissos. O actual fecho do governo federal está a bater todos os recordes mas não é nada de novo, é só mais um momento em que a paralisia vetocrática já nem finge que se mexe e, por isso, entra pelos olhos dentro, até dos mais distraídos.

Obama foi torneando com ordens executivas alguns dos bloqueios que lhe eram impostos pelo poder legislativo dominado pelos republicanos, Trump, que acaba de perder a maioria no Congresso, mais tosco e mais preguiçoso, vai tweetando e tenta levar a água ao seu moinho usando as ferramentas aperfeiçoadas por Obama.

Entretanto, já há milhares de funcionários federais sem salário a acorrerem aos bancos alimentares. É mais um sinal da crescente precarização da classe média, fenómeno ocidental que se acentuou a partir da crise sistémica global de 2008 e que é uma bomba-relógio política a causar instabilidade em todas as latitudes.

2. As primeiras semanas deste ano tiveram uns dias gloriosos, ensolarados, bons para passear. Na paisagem, o sol oblíquo de Janeiro iluminava farrapos de névoa, num ou noutro vale, e fumo proveniente das queimadas.

Como é sabido, fogos no inverno são vacinas para os fogos no verão.

Essa profilaxia devia ser mais sistemática, devia usar mais conhecimento do terreno e da meteorologia, e, acima de tudo, devia ser feita com acompanhamento técnico para não acontecerem tragédias como a do dia 14, em Oliveira do Conde, em que morreu uma pessoa de 86 anos.

Comentários

Mensagens populares