Do amor

Fotografia de Viktor Paris



 I
A névoa disse à árvore:
tu, cedro, perdes a tua forma,
se eu te abraço. Disse
o cedro: o Sol ama-me mais,
toma o meu corpo inteiro
no seu corpo e dá-lhe
ser, figura.

II
Ver o cortejo de cedros
e acreditar que é o cenário.
Depois estender a mão
através da longa perspectiva
oblíqua e poder palpar,
na pele, que também os cedros
têm corpos húmidos, saliva,
à espera do Amor.

III
Se alguém descrevesse
o meu rosto, pálpebra
a pálpebra, aleta a aleta
no nariz, a curva
de lábio a lábio,
a fronte agora, a face depois

eu poderia desdenhar
da solitária alheada
imagem num espelho.


IV
Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da Natureza pede
o amor em dois olhares.
Fiama Hasse Pais Brandão



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