Inferno*
* Publicado hoje no Jornal do Centro
1. No início desta semana, o inferno dos incêndios invadiu outra vez o país e, pela primeira vez este ano, atacou também com violência o distrito de Viseu. De uma forma nunca vista, varreu floresta, casas, empresas e, desgraçadamente, vidas.
Durante toda a segunda-feira, uma boa parte do distrito esteve coberta por nuvens de fumo. Uma atmosfera espessa, com cinza e fonas a pairar, irrespirável, pesava no peito das pessoas, com ou sem máscaras compradas à pressa nas farmácias.
2. Tudo o que ouvi, li e vi converge para a seguinte constatação: perante esta situação, o estado foi, ao mesmo tempo, impotente e ausente.
“Ninguém apareceu, nem um guarda, nem um bombeiro, nem um funcionário, nada, ninguém apareceu, fomos nós com os nosso tractores, com as nossas bombas, com as nossas ferramentas, fomos nós que nunca desistimos nem de noite nem de dia, fomos nós que parámos o fogo e não o deixámos entrar na nossa freguesia”, disse-me, ao fim da tarde de segunda-feira, um “pró-activo” e “resiliente” contribuinte, pagador do salário daquela senhora que, naquele desgraçado dia, ainda era a ministra que tutelava a protecção civil.
3. Os incêndios estão cada vez mais violentos, já não são um exclusivo florestal (invadem cada vez mais as povoações, cidades incluídas) e já não são um exclusivo do verão (acontecem na primavera, como em Pedrógão Grande, avançam pelo outono como este).
4. Tanto quisemos pôr o estado a dar-nos o céu que ele agora não consegue evitar-nos o inferno.
Ora, da sua felicidade tratam as pessoas, a primeira função do estado é evitar-lhes o inferno.
5. Como o primeiro-ministro não foi capaz, teve que ser o presidente da república a demitir a ministra e a pedir desculpa pelas vidas ceifadas.
António Costa tem agora que dissipar uma dúvida no espírito dos portugueses — é homem para os tempos difíceis ou só para os tempos fáceis?
1. No início desta semana, o inferno dos incêndios invadiu outra vez o país e, pela primeira vez este ano, atacou também com violência o distrito de Viseu. De uma forma nunca vista, varreu floresta, casas, empresas e, desgraçadamente, vidas.
Durante toda a segunda-feira, uma boa parte do distrito esteve coberta por nuvens de fumo. Uma atmosfera espessa, com cinza e fonas a pairar, irrespirável, pesava no peito das pessoas, com ou sem máscaras compradas à pressa nas farmácias.
2. Tudo o que ouvi, li e vi converge para a seguinte constatação: perante esta situação, o estado foi, ao mesmo tempo, impotente e ausente.
“Ninguém apareceu, nem um guarda, nem um bombeiro, nem um funcionário, nada, ninguém apareceu, fomos nós com os nosso tractores, com as nossas bombas, com as nossas ferramentas, fomos nós que nunca desistimos nem de noite nem de dia, fomos nós que parámos o fogo e não o deixámos entrar na nossa freguesia”, disse-me, ao fim da tarde de segunda-feira, um “pró-activo” e “resiliente” contribuinte, pagador do salário daquela senhora que, naquele desgraçado dia, ainda era a ministra que tutelava a protecção civil.
3. Os incêndios estão cada vez mais violentos, já não são um exclusivo florestal (invadem cada vez mais as povoações, cidades incluídas) e já não são um exclusivo do verão (acontecem na primavera, como em Pedrógão Grande, avançam pelo outono como este).
4. Tanto quisemos pôr o estado a dar-nos o céu que ele agora não consegue evitar-nos o inferno.
Ora, da sua felicidade tratam as pessoas, a primeira função do estado é evitar-lhes o inferno.
5. Como o primeiro-ministro não foi capaz, teve que ser o presidente da república a demitir a ministra e a pedir desculpa pelas vidas ceifadas.
António Costa tem agora que dissipar uma dúvida no espírito dos portugueses — é homem para os tempos difíceis ou só para os tempos fáceis?
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