A reconciliação autárquica*

* Análise às eleições autárquicas publicada hoje no Jornal do Centro


1. As nossas eleições autárquicas de domingo fizeram um enorme contraste com a insensatez na Catalunha. Por cá, o eleitorado, depois da zanga dos tempos da troika, parece reconciliado com a república.

Tendo como termo de comparação as autárquicas de 2013, desta vez foi mais gente às assembleias de voto e houve menos votos brancos e nulos. Resultaram destes fluxos virtuosos quase mais 282 mil votos nas candidaturas, tenham sido elas de partidos ou de independentes. Estas estabeleceram um novo recorde: já há 17 câmaras não ligadas a partidos.

Depois de terem trazido para a área do poder os partidos de protesto de esquerda, num arranjo governamental inédito, estes tempos geringôncicos estilhaçaram agora mais uma nossa tradição política: era costume a meio de um mandato governamental o eleitorado castigar o partido que estava de turno em S. Bento. Foi assim em 1982, 1989, 1993, 1997, 2001 e 2013. Desta vez, pelo contrário, o primeiro-ministro António Costa conseguiu o maior número de sempre de câmaras socialistas — 157. Quase que alcançava as 159 do apogeu do PSD, obtidas em 2001, aquando da maré laranja que levou à demissão do então primeiro-ministro António Guterres.

2. Olhemos agora um pouco para o distrito de Viseu. A sua hemorragia humana prossegue: em quatro anos perdeu 18,5 mil eleitores, o que levou à perda global de seis vereadores.

O PS distrital não acompanhou o crescimento do PS nacional. Perdeu Castro Daire, ganhou Lamego. Tinha onze câmaras, com onze ficou. Tinha setenta mandatos municipais, agora tem sessenta e seis. O líder federativo, António Borges, caminhou sem sair do sítio nestas autárquicas, apesar do contexto positivo que permitiu aos socialistas varrerem o país.

Já Pedro Alves, o líder distrital do PSD, fez pior ainda: andou para trás. É certo que ganhou Castro Daire aos socialistas mas perdeu para eles Lamego, e perdeu ainda S. João da Pesqueira e Oliveira de Frades para independentes. Oliveira de Frades é um caso de estudo: os laranjas, depois de duas eleições acima de 70 por cento, apesar de terem tido um adversário socialista que ficou abaixo de sete por cento, mesmo assim conseguiram perder aquele seu baluarte lafonense.

Paulo Robalo Ferreira, o novo presidente da câmara de Oliveira de Frades, eleito numa “barriga de aluguer” chamada Nós Cidadãos, foi a surpresa da noite. Ele e Manuel Cordeiro, novo presidente da câmara de S. João da Pesqueira, acabaram com décadas de exclusividade rosa-laranja.
Armando Mourisco

Na capital do distrito, António Almeida Henriques elegeu mais um vereador ao obter mais quase 3400 votos. Dois mil chegaram-lhe do CDS, os outros de algum eleitorado do dr. Ruas que, desta vez, não se absteve nem votou branco ou nulo. A candidata socialista, apesar das suas prestações confrangedoras no debate eleitoral, acabou por conseguir um resultado em linha com o de José Junqueiro (a sua queda é inferior a meio ponto percentual).

Resta referir os campeões destas autárquicas: Carlos Santiago (PSD) foi reeleito com 71,92% em Sernancelhe e Armando Mourisco (PS) arrecadou a medalha de ouro com uns superlativos 75,36% em Cinfães.

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