O homem do escadote*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


No domingo passado, pelas quinze horas, um homem subiu a um escadote...

Fotografia Olho de Gato
... e compôs os painéis azuis e brancos da agência da Caixa Geral de Depósitos, sita na intersecção entre a Rua do Comércio e a Rua Formosa, da formosa cidade de Viseu.

O homem cumpriu com brio e profissionalismo a encomenda do dr. Paulo Macedo, esse mau-carácter que, durante o passismo, tentou destruir o serviço nacional de saúde (fazendo fé nos avisos da esquerda, brinco do dr. Galamba incluído), perdão!, a encomenda do dr. Paulo Macedo, esse messias que agora, durante o costismo, vai salvar a CGD (fazendo fé na mesmíssima esquerda, brinco do dr. Galamba incluído).

Encomenda urgente aquela, não há tempo a perder, é necessário esticar as telas retro-iluminadas da CGD, perdeu-se um ano com aquele Domingues, um calaceiro que só serviu para derreter tempo com éssiémiésses para o ministro Centeno, para regozijo do dr. Lobo Xavier, esse direitolas, e para escândalo do competente dr. Jorge Coelho (produtor de bom queijo e bom requeijão junto à ermida de Santo António dos Cabaços, em Mangualde) e do flexível dr. Pacheco Pereira (guru do autoritarismo do dr. Cavaco, guru uns anos depois da asfixia democrática da dra. Manuela, guru agora da geringonça do dr. Costa, e guru no futuro do músculo populista do dr. Rio).

Pena é já não ser possível ao homem do escadote tratar das telas azuis da caixa na sua agência La Seda (de onde se impariram 476 milhões de euros), ...



... nem na agência Efacec (de onde se escafederam 303 milhões), ou na agência Vale do Lobo (de onde se desvararam 283 milhões), ou na agência Espírito Santo (de onde se salgadaram 237 milhões), para não falar da agência Lena (de onde se offchoraram 225 milhões) ou da agência Berardo, ou...

Pena é o homem do escadote ter andado, no último domingo deste inverno do nosso descontentamento, a esticar as telas de um dos 180 balcões da CGD que já não vão fazer outro inverno.

Comentários

  1. “Paredes Mudas!
    Povo Calado!”
    grafitti mural

    Críticas de Alcova!

    Goste de ler. Apreciei o humor. Artigo perfeito sobre a toxicidade do Centrão e Cª na política portuguesa.

    Gostaria de ter a capacidade de produção blogueira do Sr. Gato, mas a realidade é o oposto e corro (quase sempre) o risco de comentar “fora de prazo”.

    Envolvido nesse sentimento não pude deixar de reflectir (ainda) sobre a 2ª parte do artigo da passada 6ª feira (“Tempos Amáveis”) onde refere: “Vivem-se tempos amáveis e distendidos no Portugal político. Até a crispação dos rebanhos partidários nas redes sociais anda mais branda.” A crónica de hoje (“O homem do escadote”) bem poderia ser considerada a sequência dessa explanação.

    Mas outros exemplos poderíamos aqui trazer. No dia 15 de Março, o jornal Público citava o ministro da Educação ao falar com Mário Nogueira (FENPROF): “a descentralização na educação é um caminho a fazer em conjunto”. “Caminho conjunto” tem algo de bíblico… Se fosse professor e sindicalista ficaria preocupado. Será a sequela da manifestação de apoio e desagravo ao “Tiaguinho”? Este assunto da descentralização na educação tem sido tratado com uma prosa nebulosa e quase mítica. Diz-se o contrário do que aí se tinha dito, agora apresentado como “propostas inovadoras”/“perspectivas inovadoras”/“hipóteses de trabalho excitantes”, com a novidade de todos (embora disfarcem…) os partidos com poder autárquico gostarem da ideia.

    Eu diria que cada um sonha com o que quer e lê o que lhe interessa. Em lugar da racionalidade, o que vemos surgir são a “pós-verdade”, os egoísmos e as ilusões. Talvez o cinismo do centrão (e novos amigos) sejam elementos inseparáveis no actual contexto político e da possível “crítica de alcova”.

    Que Portugal é este em que estamos? A pergunta remete-me para o poema de Jorge de Sena: "Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso!"

    Até lá, sossego porque as divergências, com o Sr. Gato, vão de par com as convergências como compete a quem gosta do diálogo. Assim, concordo com Joaquim Alexandre e também recuso o consenso que está tão na moda e que, na realidade, não passa de uma censura encapotada.

    A terminar recordo Luís Cardoso (escritor timorense):“Os gatos? Nunca morrem. Mudam-se para a eternidade.”

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