Autárquicas (#3)*

* Publicado hoje no Jornal do Centro


1. As eleições autárquicas deverão ser marcadas para o primeiro dia de Outubro, daqui a meio ano. A última edição do Jornal do Centro revelou já a quase totalidade dos candidatos a presidente da câmara no distrito de Viseu.

Seguir-se-á a feitura das listas municipais e de freguesia, uma festa da democracia que envolve centenas de milhares de cidadãos por esse país fora. Nunca é demais lembrar: o poder local, com menos de dez por cento do orçamento de estado, fez e faz muito pela qualidade de vida dos portugueses e é a nossa mais importante escola de aprendizagem e participação democrática.


Daqui
Apesar de haver várias câmaras falidas, não foram os municípios que puseram a dívida do estado acima dos 130% do PIB, nem foram eles que nos levaram à bancarrota. Foram os governos centralistas de Lisboa, cuja codícia e corrupção “o reino nos despovoa”, tal como Sá de Miranda via o “cheiro da canela” fazer ao país no século XVI.

2. As autárquicas deste ano vão ser diferentes das anteriores em dois aspectos principais:
(i) em 2013, a lei da limitação de mandatos correu com os muitos dinossauros autárquicos que ainda sobreviviam (nome mais sonante no distrito: Fernando Ruas);
(ii) há quatro anos, o país estava em recessão, nas mãos dos credores, e as pessoas, zangadas com os partidos, votaram em força em candidaturas independentes e mais que duplicaram os votos brancos e nulos. No concelho de Viseu, os brancos e nulos chegaram aos 9,4% e, nas freguesias mais urbanas, ultrapassaram a fasquia dos 12%.

Ora, desta vez, já não há dinossauros para correr e o voto anti-sistema vai diminuir. As candidaturas independentes vão ter a vida mais difícil e muitos dos votos de raiva de há quatro anos vão regressar agora ao redil partidocrático. No concelho de Viseu, esses votos vão ser mais de três mil, valem mais de meio vereador.

Comentários

  1. “Amém vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas irão à vossa frente para o reino de Deus.”
    Mateus 21:31

    “As candidaturas independentes vão ter a vida mais difícil e muitos dos votos de raiva de há quatro anos vão regressar agora ao redil partidocrático”, cito Joaquim Alexandre. Presumo que noutros locais do distrito o ambiente seja semelhante. Para muitos será um descanso, visto nada terem na cabeça com que pensar. Nada se discute, tudo se reduz à clubite do “centrão”, essa coisa sem remédio e soporífera. E quando se tenta construir um texto de debate ou uma lista alternativa, são essas pessoas logo rotuladas de “intelectuais”, ao bom estilo “insulto do saloio”.

    Se aqueles em que votámos e que nos governaram não fizeram nada do que prometeram e do que legitimamente as pessoas esperavam, então porque repetem o erro? E levam com o (execrável) Agir e toda uma programação cultural (será festivaleira?) de “alto gabarito” e gostam…!?

    Neste contexto, o “meio vereador” corre o risco de ficar na abstenção ou regressar ao colo tranquilo do poder.
    Apesar de tudo há que reconhecer o esforço do BE em apresentar um candidato que tentará (?) quebrar a (previsível) campanha sensaborona.
    Vou esperar para ver.

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  2. Concordo com a visão do poder local como o mais contributivo para o bem estar do cidadão. A política de proximidade é a verdadeira política. Também é verdade que as contas dos municípios estão bastante melhor equilibradas que as nacionais, o que, por si só não significa melhor governança. A verdade é também a de que, muitos dos investimentos locais, pensados por presidentes de câmara megalómanos, saem do orçamento de estado. A política local e nacional são interdependentes no que ao poder diz respeito, nesta promiscuidade perde o contribuinte...

    Vivemos tempos novos, resta-nos esperar que os eleitores tenham essa consciência. A mudança de políticas a começar será sempre pelas autárquicas, essas são sempre as eleições mais importantes.


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