Como dançar sem par
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1.
bailarina, não
vista os tubos.
bailarinos são
antisoldados
de chumbo.
2.
queria que você fosse
você, e dançasse em mim
— mas não pisasse os olhos.
se assim pedir
é pouco, o que
pedir que não
o mais um pouco?
assim queria você — sim;
talvez até dançasse. até.
fica a fim?
3.
suponha que eu fosse
você — pua. íntegra
nos pés. dançarinos.
quando eu bailarino,
não posso levar
a água mais limpa,
que te sirva a boca,
que te lamba os dedos
e a rija panturrilha.
4.
consigo me desapego
das armas. cuido o perigo
sem fazer nenhum alarme.
respiro, mas não sem medo,
que não me entenda o suave.
assim que você for —
e com você meus ritmos
e tons — arrancarei,
não a óbvia tinta das unhas,
nem a cutícula em ruínas,
mas os últimos sorrisos
do nosso teatro nô
e o que consigo não dancei.
5.
quando postos a dançar os quadris,
balanço tal de corpos sem encontro,
tanto mais procuro e mais me perco.
mas bem no centro do tráfego
eu paro. e teu corpo me acerta.
é certo, não me embriago.
estando não me duvido —
dividido ao entrar — entre tu,
uma cóccix, outra umbigo.
André Capilé
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