Loiça*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 24 de Novembro de 2006
1. Durante a Guerra Fria o mundo organizou-se em dois pólos: o mundo comunista, liderado pela União Soviética, e o mundo capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América. Ou se era de um lado ou se era do outro. Até o Dr. Cunhal, que via em Moscovo o “sol da Terra”, tinha apontado à cabeça mísseis soviéticos e não mísseis americanos. Com um ou outro percalço, assim funcionaram as coisas até à queda do Muro de Berlim, em 1989.
Naqueles anos, as duas grandes potências também tiveram os seus dissabores militares: a derrota no Vietnam traumatizou a América e o Afeganistão mostrou que a União Soviética já não podia com uma “gata pelo rabo”.
Confortável, debaixo do guarda-chuva de segurança americano, a Europa perdeu os seus impérios coloniais e perdeu músculo político-militar. Quando a barbárie regressou à Europa, na ex-Jugoslávia, foi preciso virem os americanos resolver o problema.
2. Robert Kagan, um académico neo-conservador, escreveu, ainda antes da Guerra do Iraque, “O Paraíso e o Poder, A América e a Europa na Nova Ordem Internacional”, onde defendeu que há uma divergência estratégica permanente entre a política externa dos Estados Unidos e a da Europa. O livro está editado em Portugal, pela Gradiva e nele, a certa altura, lê-se que: «(…) a verdadeira divisão de tarefas [militares] processa-se do seguinte modo: os Estados Unidos “fazem o jantar” e os europeus “lavam a louça”.»
Na Bósnia e no Kosovo foi assim. Os americanos fizeram com muita eficácia o trabalho “sujo” da guerra e os europeus fizeram o trabalho de manutenção da paz, isto é, “lavaram a loiça”.
Infelizmente, no Iraque, tal já não é possível. É que George W. Bush “fez o jantar” mas partiu a loiça toda. Já não há loiça para lavar. Só cacos para colar.
1. Durante a Guerra Fria o mundo organizou-se em dois pólos: o mundo comunista, liderado pela União Soviética, e o mundo capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América. Ou se era de um lado ou se era do outro. Até o Dr. Cunhal, que via em Moscovo o “sol da Terra”, tinha apontado à cabeça mísseis soviéticos e não mísseis americanos. Com um ou outro percalço, assim funcionaram as coisas até à queda do Muro de Berlim, em 1989.
Naqueles anos, as duas grandes potências também tiveram os seus dissabores militares: a derrota no Vietnam traumatizou a América e o Afeganistão mostrou que a União Soviética já não podia com uma “gata pelo rabo”.
Confortável, debaixo do guarda-chuva de segurança americano, a Europa perdeu os seus impérios coloniais e perdeu músculo político-militar. Quando a barbárie regressou à Europa, na ex-Jugoslávia, foi preciso virem os americanos resolver o problema.
2. Robert Kagan, um académico neo-conservador, escreveu, ainda antes da Guerra do Iraque, “O Paraíso e o Poder, A América e a Europa na Nova Ordem Internacional”, onde defendeu que há uma divergência estratégica permanente entre a política externa dos Estados Unidos e a da Europa. O livro está editado em Portugal, pela Gradiva e nele, a certa altura, lê-se que: «(…) a verdadeira divisão de tarefas [militares] processa-se do seguinte modo: os Estados Unidos “fazem o jantar” e os europeus “lavam a louça”.»
Na Bósnia e no Kosovo foi assim. Os americanos fizeram com muita eficácia o trabalho “sujo” da guerra e os europeus fizeram o trabalho de manutenção da paz, isto é, “lavaram a loiça”.
Infelizmente, no Iraque, tal já não é possível. É que George W. Bush “fez o jantar” mas partiu a loiça toda. Já não há loiça para lavar. Só cacos para colar.
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