Fim de um mundo*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
1. No artigo da semana passada, escrito quando ainda pensava que Hillary Clinton ia ganhar, fiquei-me pela descrição do golpe infligido ao poder mediático pela campanha de Donald Trump e constatei a chegada, também aos EUA, da política da pós-verdade à moda de Putin.
A poderosa comunicação social norte-americana, que nos seus tempos heróicos conseguiu até destituir o presidente Richard Nixon, foi humilhada em toda a linha. O seu corpo tem uma ferida aberta por dois torniquetes implacáveis: (i) os media de maior influência foram sendo comprados por milionários que retiraram a autonomia editorial aos jornalistas ao mesmo tempo que os proletarizavam; (ii) por sua vez, a internet tirou aos jornais, rádios e televisões primeiro o monopólio na produção e difusão de informação e depois receita.
Trump, além de ter derrotado o poder mediático, derrotou também o poder académico armado em guru do que é permitido e do que é proibido dizer. O milionário conquistou milhões de votos de gente intimidada pelos “chuis da linguagem” do politicamente correcto que vão queimando as pessoas que não sabem dizer as palavras certas — gente que Hillary chicoteou como “deploráveis”, durante a sua desastrosa campanha.
2. Há uma velha história da dupla Piesiewicz / Kieslowski sobre um homem que marinhava muito bem de bicicleta, ziguezagueando por entre a confusão dos carros da cidade, até que foi ao oculista acertar as dioptrias. Quando passou a ver bem toda a confusão do tráfego, o homem largou a bicicleta. Perdera a coragem de fazer as tangentes aos carros que fazia antes.
Para além dos colunistas e papagaios do costume, os jornais e as televisões estão agora cheios de académicos a anunciarem o fim do mundo.
Todos eles precisam, também, de manter as dioptrias erradas. Para não verem que o único mundo que está a chegar ao fim é o deles.
3. Barack Obama tem ainda 62 dias para fazer uma coisa decente: fechar Guantánamo.
1. No artigo da semana passada, escrito quando ainda pensava que Hillary Clinton ia ganhar, fiquei-me pela descrição do golpe infligido ao poder mediático pela campanha de Donald Trump e constatei a chegada, também aos EUA, da política da pós-verdade à moda de Putin.
A poderosa comunicação social norte-americana, que nos seus tempos heróicos conseguiu até destituir o presidente Richard Nixon, foi humilhada em toda a linha. O seu corpo tem uma ferida aberta por dois torniquetes implacáveis: (i) os media de maior influência foram sendo comprados por milionários que retiraram a autonomia editorial aos jornalistas ao mesmo tempo que os proletarizavam; (ii) por sua vez, a internet tirou aos jornais, rádios e televisões primeiro o monopólio na produção e difusão de informação e depois receita.
Trump, além de ter derrotado o poder mediático, derrotou também o poder académico armado em guru do que é permitido e do que é proibido dizer. O milionário conquistou milhões de votos de gente intimidada pelos “chuis da linguagem” do politicamente correcto que vão queimando as pessoas que não sabem dizer as palavras certas — gente que Hillary chicoteou como “deploráveis”, durante a sua desastrosa campanha.
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Para além dos colunistas e papagaios do costume, os jornais e as televisões estão agora cheios de académicos a anunciarem o fim do mundo.
Todos eles precisam, também, de manter as dioptrias erradas. Para não verem que o único mundo que está a chegar ao fim é o deles.
3. Barack Obama tem ainda 62 dias para fazer uma coisa decente: fechar Guantánamo.
Outra coisa decente:
ResponderEliminar"Eu sou o Presidente, mas ele é o Boss [patrão]", disse Barack Obama, anunciando a homenagem a Bruce Springsteen.
http://www.dn.pt/pessoas/interior/obama-presta-homenagem-ao-boss-1441687.html
“Come on Wendy, tramps like us
Baby we were born to run”