Disse Inês que me queria
Disse Inês que me queria
No tempo que me enganava;
E eu queria, ela zombava.
Deu-me mostras e sinais
Que me amava de verdade,
Cativou minha vontade
Para assim querer-lhe mais;
Cuidei que eram naturais
Os extremos que mostrava,
E eu queria, ela zombava.
Era de mim tão contente
Que assim mesmo tinha inveja,
Que o que muito se deseja
Logo se crê facilmente;
Logo ela era tão diferente
Que em tudo o que me tratava
Eu queria, ela zombava.
Foi-me assim, zomba zombando,
Vencendo por graça e riso;
Sem nunca me amar de siso,
O siso me foi tirando;
Fiquei doido, como quando
Pelo amor, que me mostrava,
Eu queria, ela zombava.
Diziam-me os guardadores:
— Olha ora por ti, Joane,
Deixa Inês e não te engane,
Que ela tem outros amores. —
Cuidavam que eram melhores
Os que comigo tratava:
E eu queria, ela zombava.
Francisco Rodrigues Lobo
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