Poema de amor para chatear o Camões

Edna Purviance and Charlie Chaplin — O Imigrante (1917)
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num dia cinzento
uma amiga colorida
apareceu-me num sonho cor-de-rosa

mas ainda estávamos muito verdes
e nada estava preto no branco
foi na verdade por uma unha negra que não nos demos bem
(entalei-lhe um dedo ao fechar a porta do salão)

nada disso impediu que continuássemos juntos
sempre pela noite dando com a língua nos dentes
depois de ela me dar uma mãozinha
e de eu lhe dar um braço a torcer

descalça a minha bota e depois penduradas as suas
encostava-me a roupa ao pêlo
e eu levava as minhas mãos muito a peito

metíamos os pés pelas mãos em noites de maior excentricidade

punha-me sempre a pau
ela prometia-me mundos e fundos

quando partiu ficou como um negrão na minha vida
eu fiquei na sua como um ponto negro

a verdade é que
estou-me nas tintas
Bruno Santos

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