Ovelhas *

* Publicado hoje no Jornal do Centro



1. Ainda haverá intelectuais cuja voz tenha impacto fora das universidades? Tony Judt, no seu livro "Pensar o Século XX", liga o aparecimento dos “intelectuais públicos” à eliminação do analfabetismo e ao advento dos meios de comunicação.


Até 1940, esses intelectuais eram escritores e a sua palavra era escrita nos jornais — Bernard Shaw, Émile Zola, Stefan Zweig, Jean-Paul Sartre, ...

Depois da segunda guerra mundial e até à década de 1970, lembra Judt, a força da rádio e a expansão do ensino superior fizeram com que os professores universitários, especialmente os cientistas sociais, tomassem o lugar de influência que tinha sido dos escritores. Em Portugal, ninguém ganhou voz por causa da anemia da nossa universidade e da censura salazarista.

De qualquer forma, o público disponível para o debate inteligente e aprofundado foi minguando em todos os países. A partir dos anos de 1980, a palavra com impacto passou a vir das televisões. A solidez académica perdeu para a popularidade. O protagonismo deixou de ser dos intelectuais e passou para “comunicadores” capazes de simplificar e abreviar.

A net só acelerou este processo em que, como diz Judt, se acaba a “identificar intelectuais com comentadores de assuntos contemporâneos.”


Fotografia daqui
2. Os seis anos de autoritarismo negocista de Sócrates fizeram avariar o "departamento de qualidade" do PS.

Um exemplo: em 2011, foi apresentado Paulo Campos, o homem dos pórticos e das PPPs, como cabeça de lista na Guarda, distrito atravessado pela A23 e pela A25. Pior: na altura, quer nos órgãos distritais quer nos órgãos nacionais, não se ouviu uma única voz contra essa candidatura tóxica.

No congresso deste fim-de-semana, o PS precisa mandar embora das primeiras filas a tralha socrática. Mas só isso não chega: o partido precisa, ainda mais, que os seus vários órgãos eleitos não continuem habitados por ovelhas que só sabem balir.

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