Dias estranhos — um texto de JB*

* Comentário de JB ao post deste blogue intitulado "Cabala"



Neil Young, “On the Beach”

Este texto vai colocado neste espaço mas estava a ser escrito quando vi a fotografia e li o poema "Estou nu diante da água imóvel" (em post anterior).

Nessa altura lembrei-me da situação que se passa no PS: todos a tentarem manter a cabeça à tona da água e não serem levados na enxurrada Sócrates.

Estes dias têm sido estranhos e é difícil acompanhar o ritmo das notícias e comentários.


Daqui
Tenho-me cingido aos jornais e internet, pois a televisão há muito abandonei.

Já aqui escrevi que não tenho sentimentos ambivalentes em relação a José Sócrates; pessoalmente não tenho simpatia pela personagem e politicamente estou distante.

No entanto, seria incapaz de escrever essa infâmia intitulada "Aleluia!", no Expresso online, mas também não compreendo quem quer transformar Sócrates num preso político ou fazer de Évora um novo percurso de peregrinação.

Falar de um julgamento político como fez Mário Soares é o mesmo que recuperar a tese da cabala. O desabafo de Mário Soares cria, porém, um problema inesperado e incontrolável (?) ao PS. Será possível não falar de Sócrates no congresso deste fim de semana? Poderá António Costa visitar o camarada na prisão num gesto de amizade e, no momento seguinte, convencer os portugueses de que o "seu" PS não tem nada que ver com aquilo? António Costa recomendou contenção (esteve bem) mas Soares contrapõe que “todo o PS está contra esta bandalheira” (todo?). Declaração de guerra?

Neste contexto a direita tem sido moderada. Mas quanto tempo vai aguentar até iniciar uma campanha que inquine a debate eleitoral do próximo ano? Escorregou Passos com a frase: “os políticos não são todos iguais”. Não são, e nem todos são sócios da Tecnoforma…

No livro "A Razão Populista" (2005), o pensador Ernesto Laclau defende que a ameaça à democracia contemporânea não está no sobressalto plebeu (dito populismo), mas no estreitamento oligárquico da democracia por minorias que escapam ao controlo popular. E neste contexto concordo com Baptista Bastos: "Mais do que a mossa social causada pela exaustão dos factos, a endemia moral que nos assaltou é, de certeza, extremamente gravosa, porque atinge fundo a nossa comum credulidade nas estruturas da nação e na particularidade da sua alma.”

E termino com o que considero ser um factor de inquinamento na vida do PS, e de há muito, a falta de clarificação. Como é possível que durante quatro (ou cinco..?) longos meses dois candidatos; duas listas concorrentes e supostamente dois projectos, logo após as eleições internas, se tenham apressado a negociar lugares, lugarzinhos e escalonamentos no futuro. Afinal por Viseu já estava formada uma lista de “unidade” e “marginalizada” uma lista de proscritos. Ingenuamente, pensei que no Congresso a clarificação seria um tema central. Agora vão discutir “quem é mais socrático do que eu…”.

Tenham vergonha!


“Ao contrário da matemática, em questões de carácter, 
o produto de dois números negativos raramente dá positivo”
Laura Abreu Cravo

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