Não estou por dentro do contexto deste comentário.
Só me interessa aqui afirmar o apoio a este espaço livre e de discussão.
Recordo Jorge de Sena e o seu poema:
No país dos sacanas
Que adianta dizer-se que é um país de sacanas? Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas, e todos estão contentes de se saberem sacanas. Não há mesmo melhor do que uma sacanice para poder funcionar fraternalmente a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais, para além das rivalidades, invejas e mesquinharias em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país, a ver se se convencem e puxam para cima as calças? Para quê, se toda a gente sabe que só asnos, ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora. Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice, porque no país dos sacanas, ninguém pode entender que a nobreza, a dignidade, a independência, a justiça, a bondade, etc., etc., sejam outra coisa que não patifaria de sacanas refinados a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio? Não, que toda a gente já é pelo menos dois. Como ser-se então nesse país? Não ser-se? Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia. Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena (Outubro de 1973)
Recomendo a leitura do discurso proferido na cidade da Guarda, durante as comemorações do “Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas”, no dia 10 de junho de 1977, onde ele refere que “os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha”
A relação de Sena com Portugal, com a cultura portuguesa e mesmo com a intelectualidade portuguesa foi difícil, desde o princípio até ao fim, foi uma relação que nunca se resolveu. Basta lembrar o poema: "Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Nem é ditosa, porque o não merece./ Nem minha amada, porque é só madrasta/ Nem pátria minha, porque eu não mereço/ a pouca sorte de ter nascido nela.//".
Ele sempre foi inconveniente numa altura em que as pessoas não reconheciam esse tipo de autonomia crítica.
No fim, deixo uma mensagem de apoio e amizade ao autor deste blog: “E sejam quais forem as nossas ideias e as nossas situações políticas, nenhum de vós que me escutais ou não, pode viver sem uma ideia que, genericamente, é inerente à própria condição humana: o resistir a tudo o que pretende diminuir-nos ou confinar-nos.” – Jorge de Sena
Não estou por dentro do contexto deste comentário.
ResponderEliminarSó me interessa aqui afirmar o apoio a este espaço livre e de discussão.
Recordo Jorge de Sena e o seu poema:
No país dos sacanas
Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena (Outubro de 1973)
Recomendo a leitura do discurso proferido na cidade da Guarda, durante as comemorações do “Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas”, no dia 10 de junho de 1977, onde ele refere que “os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha”
A relação de Sena com Portugal, com a cultura portuguesa e mesmo com a intelectualidade portuguesa foi difícil, desde o princípio até ao fim, foi uma relação que nunca se resolveu. Basta lembrar o poema: "Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Nem é ditosa, porque o não merece./ Nem minha amada, porque é só madrasta/ Nem pátria minha, porque eu não mereço/ a pouca sorte de ter nascido nela.//".
Ele sempre foi inconveniente numa altura em que as pessoas não reconheciam esse tipo de autonomia crítica.
No fim, deixo uma mensagem de apoio e amizade ao autor deste blog:
“E sejam quais forem as nossas ideias e as nossas situações políticas, nenhum de vós que me escutais ou não, pode viver sem uma ideia que, genericamente, é inerente à própria condição humana: o resistir a tudo o que pretende diminuir-nos ou confinar-nos.” – Jorge de Sena
Olá, JB!
EliminarOuvi este discurso de Jorge de Sena ao vivo o que dá a medida da minha cotice.
Há um comentador anónimo alforreca que costuma mandar comentários que nunca têm a ver com a mensagem mas sim com o mensageiro.
Diverte-me muito. Uma vez por outra respondo ao idiota.
Abraço