A RTP?!



A partir de uma fotografia de
Enric Vives-Rubio para o Público

António José Seguro apresentou esta semana o seu programa para as primárias de 28 de Setembro. 

É mais um documento solipsista do ainda líder socialista. 

Tudo naquelas sete páginas é eu, eu, eu...

É caso para perguntar: 
Seguro julga que o PS é ele, ele, ele...?


O eu, eu, eu de António José Seguro, no subcapítulo "condições de governabilidade", em que são definidas as condições para a participação socialista num eventual governo de coligação, escreve o seguinte:

«Excluem-se dos acordos de incidência governamental os partidos que defendam a destruição do Estado Social, a saída de Portugal da União Europeia e do Euro e que advoguem uma política de privatização de empresas públicas em sectores-chave para o país, como as águas, a CGD ou a RTP.»


Embora Seguro mude mais vezes de opinião do que de camisa — recorde-se o que ele dizia das primárias abertas até há dois meses — mesmo assim, parta-se do princípio do que o aqui está dito é para levar a sério e pergunte-se: será que as águas, a CGD e a RTP estão no mesmo plano político? Todos os três são mesmo "sectores-chave para os país"? 

Vejamos:
— A água é um bem de primeira necessidade, desperta um enorme apetite aos rentistas, que se querem apropriar desse bem comum. 
Nenhuma dúvida. Há que dizer: não à privatização das águas! 

— A CGD, depois do acontecido com o BPN e agora o BES, é um refúgio e uma segurança. É um porto de abrigo perante um negócio imprescindível mas que anda a ser feito com práticas delinquentes. Precisamos de uma CGD pública, que não seja um coito de boys e que seja gerida com prudência.
Nenhuma dúvida. Há que dizer: não à privatização da CGD! 

— Quanto à RTP importa perguntar: ela faz mais serviço público que a SIC ou a TVI? Em quê? O eu, eu, eu de António José Seguro já ouviu falar da net de banda larga e das centenas de canais no cabo?
A RTP é assim tão importante para o futuro do país que possa impedir a formação de um governo?

Pôr as águas, a CGD e a RTP no mesmo plano, é como uma família pôr no mesmo plano a casa, o carro e o leitor de CDs. O leitor de CDs toca, há lá por casa uns CDs maravilhosos, mas...

O eu, eu, eu de António José Seguro parece que não vive neste mundo: em Maio, enquanto o país andava focado nas políticas europeias, decidiu apresentar 80 compromissos para... o governo do país.

Pior: dos tais 80 compromissos, 32 aumentavam o défice, 44 talvez-sim-talvez-não, e só 4 o diminuíam.

Este tipo de propostas, logo a seguir ao trauma da bancarrota de 2011, são eleitoralmente tóxicas e um susto para o futuro. A classe média que nestes três anos foi tão fustigada não vota neste tipo de delírios.

O PS, com o eu, eu, eu de António José Seguro, repete em legislativas os 31% das europeias. Mais coisa menos coisa.

O eu, eu, eu de António José Seguro é candidato a vice-primeiro-ministro de Pedro Passos Coelho. E só.

Comentários

  1. Citemos um autor humorista: "Os Legos encaixam uns nos outros. Os egos não."

    O relógio do Tó Zé coxeia atrás do tempo.

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    1. Um texto programática escrito na primeira pessoas do singular é coisa esdrúxula.

      O Tó Zé está a ser levado ao colo pelos media de direita.

      Percebe-se bemporquê.

      Abraço, JB!

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  2. a sua luta contra a RTP por vezes cega-o. Há uma expressão romana curiosa e que se aplica ao caso: abusus non tolit usum... não é por alguém andar a 200 Km/h na auto-estrada que se devem acabar com elas, certo? se a RTP está como está deve-se em muito á instrumentalização que os governos têm feito dela. a questão aqui é o serviço público. pela sua prosa, sei k aprecia bom cinema e detesta futebol. sabe, a rtp já teve ambos na grelha e agradava a todos. Eu tenho saudades da RTP, mas matar o paciente não é a melhor cura e a sua cruzada contra a RTP sinceramente j+a enjoa.

    Cps

    MV

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    1. MV,
      - gosto de cinema, gosto de futebol, não gosto quando o Sporting perde;
      - defendo há muito uma RTP a viver da taxa audiovisual e sem publicidade, para isso precisa de ser redimensionada, claro;
      - considero águas e CGD assuntos de regime, a RTP nesta fase já não.

      Cumprimentos

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  3. aliás, já que endeusa a TV privada, veja esta peça sobre a SIC. tem os seus méritos mas dizer que isto chega para servir um país...

    https://www.youtube.com/watch?v=Ub-w1qsyIAA#t=66

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  4. Venho hoje aqui elucidar o autor e os comentadores sobre a questão da RTP !

    Seguro não quer privatizar a RTP porque isso afectaria e de que maneira a SIC e a TVI e obviamente Seguro não quer hostilizar tão poderosos agentes de informação ou desinformação conforme o a informação de que dispusermos.

    Hoje em dia já existem formas de saber verdades sem ser necessário vê-las nos canais cá do burgo, é só ter tempo e paciência para as descobrir.

    Ficam estes link's para melhor elucidar aquilo que disse acima e já agora lanço um repto para ver se alguém descobre uma noticia em Português com conteúdo semelhante.


    http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/as-coisas-que-eles-sabem-6574971


    http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/uma-fraude-que-so-serve-para-enganar-os-6598445



    WW

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    1. Caro WW,

      Com toda a simpatia, não vejo nenhum partido a querer privatizar a RTP (em tempos, Relvas tentou uma privatização parcial, o falecido António Borges rascunhou uma gestão privada em propriedade pública para ela, ideias inconsequentes de que nenhum partido mais falou nem o PSD...)

      O correr das águas debaixo das pontes foi:
      — tornando mais difícil à RTP fazer a punção ao orçamento de estado que fez no seu apogeu (chegou a ser um milhão de euros por dia)
      — tornando a atractividade comercial do canal 1 bem menor, uma razão é essa que indica (audiências a dividirem-se e subdividirem-se por cada vez mais canais e plataformas diversas)

      Repito-me (e disso lhe peço desculpa):
      — um serviço público de rádio e tv faz sentido a viver das taxas audiovisuais e sem publicidade, devidamente redimensionado

      Cumprimentos

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    2. Pois isso é que os privados querem uma RTP a viver do Estado e sem publicidade para não terem concorrência, é o "rentismo" por baixo da mesa.

      Não sou adepto de meias tintas, ou se privatiza totalmente ou concorre de igual para igual sem medo permanecendo na posse do Estado.

      O mercado já provou inúmeras vezes e em diversos sectores que não se pode auto- regular daí defender que a regulação mais eficaz é aquela que deve ser feita pelo Estado / Governos da Nação através da sua participação em empresas estratégicas pois á falta de Homens que o comandem Honestamente sempre está (ainda) sujeito a algum tipo de escrutínio.

      Entendo por isso que o Estado (os Portugueses) deveria ser dono de 51% de todas as empresas monopolistas (EDP, CTT) ou que estejam inseridas em actividades dominadas por oligopólios (GALP, CGD, PT) e confiar a gestão dessas empresas em parte a agentes privados que detivessem os restantes 49% que obviamente tenderiam sempre a procurar bons negócios para melhorarem a rentabilidade das suas acções, os outros privados se quiserem ganhar o pão nosso de cada dia só tem de fazer melhor e conquistar quota de mercado se não deêm o lugar a outros empreendedores.

      WW

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    3. Bom dia, caro WW

      As razões que me fazem defender um serviço público a viver exclusivamente das taxas e não de pub não têm nada a ver com rentismos, mas com a mudança de "paradigma" na programação (peço desculpa pelo palavrão entre-aspas, não me está a ocorrer outro, de momento).

      O serviço público de rádio e televisão, livre de publicidade e da luta pelas audiências, não precisaria de estar sempre a imitar a programação das privadas, e, por conseguinte, no nosso panorama audiovisual, pelo menos nos ditos "horários nobres", haveria mais diversidade.

      Só isso. Não tenho, isso é verdade, nenhuma animosidade à TVI e à SIC (são empresas que pagam os seus impostos e empregam gente e fazem o seu produto), mas a minha ideia não tem nada a ver ou é motivada com preocupação com elas.

      Cumprimentos

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    4. Eu também não tenho animosidade nenhuma em relação á Sic ou TVI, apenas defendo livre concorrência com iguais oportunidades para todos o que manifestamente não acontece desde o plano Nacional ao plano Municipal.

      O que existe actualmente em muitos sectores da vida social e económica é um Neo-Comunismo que não permite que novas opções apareçam pois todo o sistema está feito para serem sempre os mesmos a controlarem tudo seja directa ou indirectamente.

      O Estado foi diminuído no seu papel de actor principal na regulação por acção directa, pelos políticos a soldo dos grandes grupos económicos que controlam a vida dos Portugueses e de Portugal e o mais recente exemplo disso é o BES em que está em curso uma falência controlada para proteger os grandes depositantes, só isso.

      A discussão em causa levar-nos-ia longe por isso fico-me por aqui até pelo facto que a muito grande maioria das pessoas (mais de 80%) não está voltada para os sacrifícios que são necessários fazer para que Portugal possa evoluir, preferem empurrar com a barriga e ir para o café ou facebook dizer mal mas se fossem chamados a fazer alguma coisa eram os 1ºs a virarem á cara á luta e a permanecerem quietos ou a sabotar essas acções em nome do seu interesse pessoal.

      Como diz Pacheco Pereira, Portugal está doente e as feridas abertas por Sócrates são agora fracturas expostas sem possibilidade alguma de remissão a não ser que haja exemplos concretos de mudança, o que não acontecerá tendo em conta os actores políticos que estão e os que se perfilam no horizonte.

      WW

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