A culpa*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente 4 anos, em 17 de Abril de 2009.
Este filme conta a história de Michael, um adolescente que conhece e ama com as hormonas aos saltos uma mulher com mais do dobro da sua idade. Essa mulher é Hanna, interpretada por Kate Winslet (merecidíssimo óscar de melhor actriz). É uma mulher enigmática que se relaciona com Michael, que o quer, fazendo parte desse querer ouvir a voz dele horas e horas a ler-lhe livros. Daí o título deste excelente filme – O Leitor.
Este filme conta a história de Michael, um adolescente que conhece e ama com as hormonas aos saltos uma mulher com mais do dobro da sua idade. Essa mulher é Hanna, interpretada por Kate Winslet (merecidíssimo óscar de melhor actriz). É uma mulher enigmática que se relaciona com Michael, que o quer, fazendo parte desse querer ouvir a voz dele horas e horas a ler-lhe livros. Daí o título deste excelente filme – O Leitor.
Um amor de verão, um amor de uma vida.
Hanna tinha sido guarda num campo de concentração e é levada a tribunal. Centenas de prisioneiros tinham morrido fechados num lugar em chamas e Hanna assume essa culpa. Disse ela ao tribunal: “se as portas fossem abertas, dava-se o caos e os prisioneiros fugiam”. Ao fim e ao cabo, foi esse baixar de braços perante regulamentos e leis iníquas que oleou a máquina nazi.
O Leitor trata também da culpa de Michael que calou informação importante para o julgamento e para a sorte de Hanna.
Essa culpa individual e colectiva não é um exclusivo alemão, mas a Alemanha pagou-a bem caro, com o país retalhado durante décadas, e feridas que demoram a cicatrizar.
Como parte desse processo de exorcização da culpa, foram feitos na Alemanha milhares de filmes, séries de televisão e romances sobre Hitler e o Holocausto.
2. Portugal também tem duas páginas muito negras na sua história mas, estranhamente, não há grandes narrativas sobre a nossa culpa quer durante a inquisição quer durante o salazarismo.
Quanto a Salazar, o que tem aparecido são histórias que glamourizam o ditador, tornando-o uma espécie de arrasa-corações de botas, com direito a Soraia Chaves e tudo.
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Adenda às 23H45:
Na conversa no Facebook acerca deste post, para além de se ter constatado o branqueamento e o revisionismo à volta do salazarismo, falou-se da maneira como os países da Reforma vêem a culpa, e como ela é vista nos países da Contra-Reforma.
Naturalmente, referiu-se Günter Grass, o escritor #1 da culpa alemã, e um amigo deu-me a conhecer este vídeo e esta entrevista ao "sucessor de Thomas Man" — é assim que ele é apresentado por José Rodrigues dos Santos.
Günter Grass afirma que, enquanto na Alemanha, a guerra e o nazismo foram temas incontornáveis da geração de escritores a que pertencia, as várias e ferozes guerras coloniais dos vários países europeus são praticamente ignoradas pelas respectivas literaturas (Günter Grass excepciona nesta omissão Graham Greene e o nosso Lobo Antunes que, segundo o mestre alemão, "não consegue fugir ao tema").
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