Schadenfreude *

* Texto publicado no Jornal do Centro em 19 de Dezembro de 2008, quando era primeiro-ministro José Sócrates, um campeão da schadenfreude; Pedro Passos Coelho começou agora a imitá-lo, ao lançar uma guerra de gerações num discurso aos jotas, atacando os reformados.



1. Schadenfreude é uma palavra alemã sem equivalente em português. Schadenfreude não é a mesma coisa que inveja, embora haja quem confunda.

Schadenfreude é a felicidade perante a infelicidade alheia. Inveja é a infelicidade perante a felicidade alheia.

Todos os governos usam a schadenfreude, especialmente em tempos de vacas magras. Quando os tempos são de tirar e não de dar, os governos escolhem alvos específicos. Começam por bater nos privilégios reais ou imaginários do grupo A, e a maioria fica toda contente. Depois dão uma sova nos privilégios reais ou imaginários do grupo B, e a maioria sorri, e o grupo A junta-se a esse contentamento. Depois é a vez do grupo C, do D, e por aí fora…

A schadenfreude floresce com facilidade. Não há muito tempo, viu-se em Portugal um ataque aos “privilégios” dos “deficientes privilegiados”. Até isso pegou.




2. Quando se passa da fase do tirar para a fase do dar, a schadenfreude cede o seu lugar à inveja.

Os nossos banqueiros são muito invejados. Depois de passarem anos a arredondarem-nos os juros para cima, preparam-se agora para nos porem os cofres públicos para baixo.

O tratamento prestado ao Banco Privado Português, o banco dos ricos, causou inveja. Muita inveja. Um dia o BPP não causava risco sistémico e era só um problema de meia dúzia de milionários. No dia seguinte, o mesmo banco custava 450 milhões de euros em avales públicos.
As pessoas ficaram infelizes com a felicidade do sr. Rendeiro, do sr. Saviotti, do sr. Balsemão e do sr. Júdice.

A schadenfreude bate mais nos de baixo e, por isso, é boa para os governos.

A inveja bate mais nos de cima e, por isso, é má para os governos.


No dossier BPP é melhor Sócrates pôr as barbas de molho…

Comentários

  1. Maria Tereza Estrabon Falabella23 de dezembro de 2012 às 22:28

    Alexandre
    Impressionou-me este texto teu. Fui ao google e pedi a tradução da palavra e a resposta que obtive foi: alegria.
    De qualquer maneira, isto me deu o que pensar. Afinal,felicidade com a infelicidade alheia é brutal.
    Você diz que não há correspondente em português. Aí, lembrei-me de uma expressão que temos aqui que talvez seja o correspondente: "bem feito".
    Porém a usamos em situações banais, como por exemplo: a criança cai um tombinho, e nós dizemos: - Bem feito, eu não te disse para não subir aí.E coisas assim.
    Mas continuando a pensar, percebo que, por vezes, esta expressão é usada em situações mais sérias, de maledicência mesmo.
    Isto é realmente muito triste.
    Vocês não usam aí esta expressão?
    Agora, isto aplicado à políticas governamentais, que afetam a todos, é muito mais grave ainda.
    Aproveito para desejar-lhe um Feliz Natal e um bom Ano Novo, na medida do possível.
    aria Tereza

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  2. Ola, Tereza,
    Essa expressão "bem feito!" é schadenfreude metida em palavras, isso mesmo, usa-se muito cá em Portugal.
    Este texto é análise, daí a sua frieza deliberada.

    Schaden=dano, prejuízo; freude=alegria.

    Mas, creia, sempre que vejo um político a usá-la fico muito zangado, porque não há nada que mais parta a sociedade e deslace uma comunidade, uma nação.

    Um bom Natal e um bom 2013, para si e para os seus
    Abraço

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