Sardas*

* Texto escrito no Jornal do Centro em 12 de Dezembro de 2008
     
1. Há coisa de uns vinte anos, li Jangada de Pedra, de José Saramago. A jangada de pedra de que fala o livro é a Península Ibérica que se separa do resto da Europa e se põe a navegar no Oceano Atlântico para cima, para baixo e para os lados, acabando por rumar ao terceiro mundo.
     
Jangada de Pedra é um livro com muita imaginação mas, infelizmente, de escrita baça e ideologia repulsiva. Com provável prejuízo meu, mas devo confessar que nem a posterior nobelização de Saramago me fez ler mais nada dele.
     
2. Está em exibição o filme Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, baseado na novela homónima de José Saramago.
     
Ensaio Sobre a Cegueira é a mesma parábola que Jangada de Pedra. É Saramago a citar Saramago. Conta-nos que o homem, em condições limite, fica mau como as cobras.
     
O enredo é conhecido. De súbito, as pessoas começam a ficar cegas. Não há nenhum sintoma anterior ou explicação médica. Essa cegueira é infecciosa e contagia cada vez mais gente...
     
No desespero, as pessoas ficam lobas umas das outras e juntam-se em alcateias, enquanto os santos nas igrejas vendam os olhos (ou alguém lhos venda, o que dá no mesmo). Na luta pela sobrevivência, a dignidade humana vaporiza-se, e a vacilação moral torna-se uma arma de destruição maciça. No fim, até os que resistem justos e bons acabam por perceber que o poder é a ponta de uma arma.

Ensaio Sobre a Cegueira é um bom filme e a protagonista, a fabulosa Julianne Moore, tem um talento ainda mais lindo do que as suas sardas.
   
3. Uma velha anedota:    
Duas cabras encontram um filme à porta de um estúdio de Hollywood e fazem da película o seu almoço. 
«Então?», pergunta uma.   
«Muito melhor que o livro!», responde a outra.

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