Pina Moura *

* Texto publicado no Jornal do Centro em 14 de Março de 2008


1. 
 Cara leitora, 
caro leitor: peço-lhe 
que vá 
ao Google. 

Escreva:  
Pina Moura 
ética republicana

Não faça 
essa cara, por favor! 

Prima 
no enter. 

Entretenha-se…





     2. Pina Moura afirmou uma vez: "A ética da República é a ética da lei". Na mesma sintonia, os pareceres da Comissão de Ética da Assembleia da República dizem que as eventuais incompatibilidades dos deputados devem “ser aferidas segundo um critério estritamente legal, existindo apenas e só na medida e com os limites previstos na lei.”


 A “ética republicana” de Pina Moura é, portanto, a seguinte: tudo o que não é proibido pela lei, é permitido. Recentemente, descobri, com pasmo, que os socialistas mais poderosos do distrito de Viseu pensam o mesmo.

Em ética, como é sabido, é mais fácil a análise caso a caso. Vejamos quatro casos ficcionais em que, conforme se costuma dizer, qualquer semelhança com a política portuguesa é pura coincidência:


Caso 1: Político muda mobília e decoração do gabinete (que tinha só um ano) e adquire viatura topo de gama (a anterior acabara de chegar da primeira revisão).


Caso 2: Político arranja um empreguito para um amigo (o amigo tem as habilitações académicas requeridas mas é um bronco).


Caso 3: Deputado, apanhado em excesso de velocidade, mostra o seu cartão ao polícia que já estava a pegar na esferográfica.


Caso 4: Deputado, um tempinho depois de ser eleito e sem dar cavaco aos seus eleitores, passa a receber dinheiro de um grupo económico que recebe dinheiros públicos.

Bem sei: os três primeiros casos são anedotas e o quarto é inadjectivável.

Mas repare bem: nenhum daqueles comportamentos é proibido pela lei; a “ética republicana” de Pina Moura é, em todos eles, respeitada.

Comentários

  1. O erro teórico está logo na definição dada por Pina Moura:"A ética da República é a ética da lei"
    A ética republicana vai muito além da letra da lei é uma "atitude" perante a vida e um modo de entender a vida em comunidade.
    Neste momento, os principais partidos nacionais não têm ideologia, só dominam a linguagem do economês
    No caso particular dos socialistas a que se refere, ao se inscreverem no partido, deviam ter recebido e obrigados a ir a exame sobre os livros "Ética" e "Da estrutura da Moralidade" de Mário Sottomayor Cardia, para não contribuírem para o que ele denunciou como o "atrofiamento da democracia". Como tal não é obrigatório duvido que os mesmos alguma vez tenham lido algum livro de relevo para a nossa cultura, ou sequer conheçam o autor em questão.

    Abraço.

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  2. Caro Miguel Fernandes:
    Essa carimbação aos militantes socialistas como iletrados — "duvido que os mesmos alguma vez tenham lido algum livro de relevo para a nossa cultura, ou sequer conheçam o autor em questão" — é, evidentemente uma "boutade".
    Cumprimentos

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  3. Longe de mim de carimbar os militantes socialistas do que for.
    Apenas me referia aos militantes em questão que não sabem o que é a ética republicana, nem servir o povo. O próprio Sottomayor Cardia era um proeminente militante socialista e foi dos pensadores que mais produziu sobre ética.
    Aliás o Partido Socialista, nasce imbuído na referida ética desde logo basta apontar Mário Soares, Manuel Alegre e muitos mais.
    Pelo que o comentário, apenas se circunscreve aos "...socialistas mais poderosos do distrito de Viseu pensam o mesmo..." e recorrendo à hipérbole.
    Abraço.

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