Jornalismo*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 9 de Novembro de 2012


A década do pântano adivinhada por Guterres quando se foi embora foi uma desgraça para o país e foi-o também para o jornalismo e os jornalistas. Proletarizados e precarizados, eles estão a perder a batalha com o mundo das agências de comunicação e de relações públicas, mundo que consegue plantar cada vez mais o seu produto nos media.

Isso tem sido fatal. O público percebeu este gato por lebre, perdeu a confiança e fugiu, com a consequente queda de receitas, definhamento e desemprego.

Ora, como se sabe, a natureza tem horror ao vazio e todo o vazio tende a ser preenchido com coisas novas. A vida é impossível sem esperança e a esperança cria oportunidades. Assim como o país está a precisar de partidos novos que refresquem a mesmice da terceira república, também o nosso panorama mediático está a precisar de projectos novos capazes de assumirem o papel de “cão-de-guarda”, capazes de contar o que os poderes não querem que se saiba, capazes de usar as fontes e não serem usados por elas.   

Eis dois exemplos recentes de jornalismo europeu que cortou com a principal fonte de descrédito da comunicação social — a imbricação mafiosa entre os proprietários dos media e o poder político:   

(i) em 2008, o ex-director do “Le Monde”, Edwy Plenel, liderou a fundação do site “Mediapart”, que em três anos se converteu num modelo de independência e credibilidade, revelando casos de corrupção em França, casos que são censurados nos media convencionais. Quase sessenta mil pessoas pagam 90 euros por ano para terem acesso ao trabalho do “Mediapart” que, em 2011, já deu um lucro de meio milhão de euros;   

(ii) esta semana saiu para as bancas gregas o “Jornal dos Jornalistas”; cem jornalistas entraram com mil euros cada um para uma cooperativa e contam sobreviver se conseguirem vender entre 15 a 20 mil jornais por dia.

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