Um exemplo bom, um exemplo mau*

* No Jornal do Centro aqui

Enquanto o país arde, e as nossas televisões fazem directos com jornalistas atafegados no “teatro de operações” a atrapalharem o “teatro de operações”, o mundo não pára. Vejamos dois exemplos disso mesmo, um bom e outro mau.


1. Na passada quarta-feira, António Guterres anunciou, no Twitter, “um raio de esperança” no meio do negrume que é a invasão da Ucrânia. O secretário-geral da ONU informou o mundo que, em Istambul, houve “um grande passo em frente para garantir a exportação de produtos alimentares ucranianos através do Mar Negro”. 

Tenhamos esperança que haja mais passos em frente desses, que cesse o roubo de cereais e que estes possam chegar a quem tem fome.


2. Na China continuam os sarilhos com a peste. A sua política de covid-zero funcionou com as primeiras variantes do SARS-CoV-2, com a hiper-contagiosa ómicron está a ser tudo menos fácil. 

Fotografia de Tingshu Wang/Reuters — daqui 

As consequências económicas estão a ser terríveis e as sanitárias um susto. As autoridades investem muito mais em confinamentos rigorosos do que na vacinação. Tem havido uma insuficiente vacinação de reforço nos velhos, cem milhões de chineses com mais de 60 anos estão desprotegidos.

Mais: a China ainda não tem nenhuma vacina mRNA, tem seis em preparação, mas mesmo a mais avançada — a ArCoV — só publicou os primeiros resultados clínicos há um mês e meio, resultados muito promissores mas que ainda não foram revistos pelos pares. 

Para além de a China não ter ainda produção própria das vacinas mais eficazes, também não importou nenhuma. Logo nos primeiros meses da peste, em Março de 2020, a gigante chinesa Fosun Pharma assinou um contrato com a Pfizer/Biontech para esta fornecer o país com a sua vacina, mas esse contrato continua à espera de luz verde das autoridades. 

Só há uma explicação para este arrastar dos pés — os comunistas chineses estão a fazer “tecno-nacionalismo”. Assim os classifica, em declarações à Nature, Yanzhong Huang, um especialista em política de saúde daquele país asiático.  

Já se sabe que a luta contra este vírus é uma maratona. Ainda nenhum país pode dizer que cortou a meta e que venceu o vírus. Contudo, pode afirmar-se com objectividade que, na luta contra a covid, os políticos democráticos têm obtido muito melhores resultados sanitários do que os populistas (lembremos as maluqueiras de Trump e Bolsonaro) e, ainda mais flagrantemente, as democracias revelaram-se mais eficazes do que as ditaduras (Putin usou mais a sua vacina Sputnik para charme diplomático do que para imunizar os russos e a política covid-zero de Xi Jinping é um desastre).

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