Bibliotecas*

* Crónica publicada no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 20 de Julho de 2012


A evolução histórica mostra-nos que os humanos têm vindo a produzir cada vez mais informação e a guardá-la em cada vez menos espaço.

Os nossos avôs do Côa precisaram de uma grande rocha para representarem um animal de duas cabeças — na verdade a bicefalia é banda desenhada com milhares de anos, é a representação gráfica do movimento da cabeça do macho a avaliar duas fêmeas. Mas repare-se: o suporte daqueles poucos bytes de informação pesa toneladas.    

Ao longo dos séculos, os arquivos têm diminuído em peso e volume e estamos agora prontos para saltar para uma era pós-Gutenberg, a era do e-book, o livro electrónico. “A única razão para mantermos o uso de livros feitos a partir de árvores mortas é a nostalgia” — escreveu John Biggs, em Maio, no New York Times.     

Como lembra David A. Bell, num artigo intitulado “A Biblioteca sem Livros”, uma cópia digital dos 33 milhões de volumes da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos cabe perfeitamente numa caixa de sapatos. Outro exemplo ainda mais avassalador: a Biblioteca Pública de Nova Iorque, exemplar fabuloso de design arquitectónico que ocupa dois quarteirões na Quinta Avenida, perde para um produto de design também fabuloso, já não em mármore mas em plástico, metal e vidro — o iPhone, onde se tem acesso mais rápido e a um maior número de livros.   

As bibliotecas têm que se saber reinventar, a começar pela Biblioteca Municipal de Viseu que precisa de pensamento estratégico e de capacidade de adaptação aos novos tempos, e, convém não esquecer, num contexto orçamental cada vez mais severo.      

Este assunto, espera-se, deve ser pensado na campanha das próximas autárquicas e essa reflexão deverá ter também presente a necessidade de se acabar com o vazio em que, infelizmente, caiu a ex-biblioteca da...

... Casa Amarela, na Santa Cristina.

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