Casamento temporário*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 6 de Julho de 2012


1. Em “A Separação”, o imperdível filme de Asghar Farhadi, há uma personagem típica do Irão pós-khomeinista: uma empregada islamista que, ao ter de tratar um doente com Alzheimer, vai resolvendo os seus dilemas morais telefonando a um ayatollah — “é pecado ver um homem nu?”, “é pecado dar-lhe banho?”     

A última Foreign Policy explica a fixação da teocracia iraniana no sexo e a sua intromissão no quotidiano das pessoas, num artigo intitulado “Os ayatollahs debaixo dos lençóis”.

Na república islâmica do Irão “toda a política pode não ser sexual, mas todo o sexo é político” e os ayatollahs esforçam-se por fazer jurisprudência nesta área. Eis dois exemplos dos “comandamentos” para a pureza da alma e do corpo feitos por Ruhollah Khomeini: «é recomendável não atrasar a necessidade de urinar ou defecar, especialmente se isso causar dor»; «se um homem sodomizar o filho, o irmão, ou o pai da sua mulher depois do casamento, este mantém-se válido». Ou esta pérola do televisivo ayatollah Gilani, uma criatura anedótica gozada por todas as elites laicas do país: «o objectivo do homem deve ser 'aliviar a carga' o mais cedo possível sem excitar a mulher.»

Resta referir que o título desta crónica não é uma alusão à relação Passos/Portas mas sim ao sigheh — dispositivo legal no Irão que permite aos homens terem quantas parceiras sexuais quiserem, já que o “casamento temporário” não necessita de registo oficial, é um contrato que pode durar muito ou só poucos minutos e o homem pode acabar com o sigheh quando quiser.


2. Na campanha das autárquicas de 2005, Correia de Campos criticou repetidas vezes a “ferrugem da idade” de Fernando Ruas que tinha, então, 56 anos.

Ora, como é possível alguém andar a pensar em Correia de Campos para candidato à câmara de Viseu em 2013, altura em que ele fará 71 enferrujados anos?

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