Merkollande*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 18 de Maio de 2012

     

1. François Hollande foi eleito a 6 e tomou posse a 15 de Maio. Cá, no ano passado, Cavaco Silva foi eleito a 23 de Janeiro e tomou posse a 9 de Março. Em França, 9 dias; em Portugal, 45. A terceira república portuguesa é muito mais nova do que a quinta república francesa mas está com um grau muito mais avançado de esclerose.    

O sistema político português tem prazos gongóricos que eternizam situações de bloqueio e de pântano, não permite várias eleições ou eleições e referendos no mesmo dia, é cada vez menos representativo, o voto em listas fechadas faz com que, no meio delas, sejam eleitas criaturas a quem nem os próprios vizinhos confiavam o condomínio.     

Caros António José Seguro e Pedro Passos Coelho, é agora o tempo de reformar a terceira república. É que pode não haver outra oportunidade — é muito provável que, nas próximas eleições, o bloco central deixe de ter os dois terços necessários para uma revisão constitucional.  

Podia-se começar, para já, pelas autarquias: há que acabar com os chamados “vereadores da oposição” — o trabalho mais absurdo da democracia portuguesa; há que acabar com o voto dos presidentes das juntas nas assembleias municipais; e há que transformar estas em verdadeiros órgãos de fiscalização do executivo municipal.

     

2. A eleição de Hollande não alterou nada de significativo. O novo presidente regressa ao gaullismo/miterrandismo, ao tradicional nariz empinado da política externa francesa, deixando de ser seguidista dos Estados Unidos como foi Sarko. Isso vai agradar aos BRICs, mas não vai fazer com que os países emergentes se tornem nem mais nem menos generosos ou complacentes com a dívida da “Europa”.    

No exacto dia em que tomou posse, o senhor Hollande lá foi, rápido como um raio, à senhora Merkel.

Adieu, Merkozy! 

Bienvenue, Merkollande!





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