A cave dos Horbonos e os direitos do PCP
* No Jornal do Centro — aqui
1. Os Horbonos vivem em Lukashivka, uma aldeia do norte da Ucrânia. Quando a guerra começou, refugiaram-se na sua cave onde ficaram durante dez dias a ouvir o assobio e o estrondo dos projécteis. O seu carro foi incinerado, o telhado da casa destruído, os seus terrenos ficaram cheios de crateras. Quando os russos chegaram, a 9 de Março, deram ordens para que saíssem do seu subterrâneo e, logo a seguir, mandaram granadas lá para dentro para o “limpar” de soldados ucranianos.
Vendo isto, Irina, Sergey e o seu filho Nikita foram para o abrigo de um vizinho, mas, como este era muito húmido e frio, no dia seguinte regressaram ao deles, onde encontraram lá instalados cinco soldados — quatro vindos da Sibéria e um tártaro.
Durante três semanas, naquele debaixo-de-terra, três ucranianos e cinco russos arranjaram uma forma de coabitar, de comerem juntos, de partilharem bebidas e tabaco, de falarem uns com os outros. Problemas de comunicação não havia porque, como se sabe, os ucranianos são bilingues, tanto falam a sua língua como o russo.
O capitão era o mais putinista de todos, estava mesmo convencido que a “operação militar especial” era para “libertar” os ucranianos e que, acabada esta, todos iriam viver felizes sob o governo de Putin.
Como explica Peter Pomerantsev, num texto intitulado “We can only be enemies / Só podemos ser inimigos” (The Atlantic, 1 de Maio), aquela cave “tornou-se um microcosmos da frente de propaganda da guerra” em que, de um lado, estavam cinco russos com a “litania de falsidades” com que lhe encheram as orelhas e, do outro, três ucranianos a tentarem encaixar esta desesperante realidade: a sua casa, a sua aldeia, o seu país, estavam a ser dizimados “por agressores guiados por uma ficção”.
Durante as três semanas que durou a ocupação de Lukashivka, aos poucos, aqueles cinco russos foram percebendo as mentiras putinistas e, no fim, quando se foram embora, pediram desculpa aos Horbonos.
Que fazer para conseguir penetrar no “bunker informacional” russo? Como fazer chegar a verdade aos cidadãos russos? Como lhes explicar que os sonhos imperialistas de Putin lhes roubam o presente e o futuro?
Peter Pomerantsev defende um caminho contra-intuitivo: em vez dos media democráticos russófonos falarem só para a bolha liberal e estarem exclusivamente focados na guerra, melhor será tratarem dos assuntos que afectam a vida dos cidadãos — “hipotecas, medicamentos, escolas, futuro dos filhos, relacionamento com o mundo.”
2. No que se refere à invasão da Ucrânia, o PCP virou PZP, é incapaz de empatia com o sofrimento dos ucranianos, está sempre a difamá-los...
Achado no FB |
Ao fim e ao cabo, nada de novo: os comunistas portugueses sempre gostaram de autocratas, tanto apreciam o ogre norte-coreano como o darth vader sírio que bombardeou com armas químicas o seu próprio povo.
Depois de bem explicado o que penso do partido de Jerónimo de Sousa em matéria de política externa, devo dizer que uma coisa é criticar as suas posições políticas, outra é persegui-lo. Alguns juristas, em declarações ao DN, defenderam que aquele partido podia ser incriminável, em tribunal, por “discurso de ódio”.
Essa deriva autoritária e antidemocrática é intolerável. O PCP tem todo o direito às suas simpatias e às suas antipatias, o PCP tem todo o direito de as expressar nos termos e com os argumentos que achar por bem. A política é livre, tem que ser livre. A opinião é livre, tem que ser livre. Seja ela sensata, seja ela abstrusa, seja ela repulsiva.
Viva a liberdade política! Viva a liberdade de expressão!
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