Comunicar *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 11 de Maio de 2012
1. Agora é modernaço chamar-se “narrativa” a toda a espécie de comunicação. Chame-se então “narrativa” ao fluxo mediático, esse produzir de sentido que já foi de poucas e profissionais vozes e agora é de muitas vozes, muitas delas não profissionais, umas e outras a debitarem “narrativas” nos media, nos blogues, nas redes sociais.
Ora, esta “narrativa” parece mais poderosa do que verdadeiramente é.
Veja-se o caso da promoção do Pingo Doce no 1º de Maio que ocupou uma semana completa da atenção do país. Recorde-se: os media só começaram a falar do caso quando a confusão já estava instalada nas lojas.
Nenhum jornal, nenhuma rádio, nenhuma televisão, nenhum outdoor avisou antes que íamos ter as pastas de dentes e o Alvarinho Pingo Doce do enólogo Anselmo Mendes a metade do preço. Contudo, o povo acorreu em massa. Porquê?
Já se citou aqui Umberto Eco a explicar a impotência do ruído dos media mas repete-se: “é apenas no silêncio que funciona o único e verdadeiramente poderoso meio de informação que é o murmúrio”.
Foi o murmúrio, foi o sussurro boca-orelha que levou aquelas multidões ao Pingo Doce, criando um buraco superior a 10 milhões de euros no orçamento do aprendiz de feiticeiro Pedro Soares dos Santos.
Oxalá não se tenha esgotado o Alvarinho...
2. A campanha para a concelhia do PS-Viseu começou cedo demais e, claro, agora perdeu gás. As entrevistas aos dois candidatos publicadas aqui no Jornal do Centro foram interessantes mas insuficientes.
Termos perdido a Rádio Noar tornou o nosso viver colectivo mais pobre. Neste caso, o grande jornalista António Figueiredo resolvia, numa hora, o défice de informação dos militantes socialistas e da cidade.
Cara Lúcia Araújo Silva e caro Filipe Nunes, por favor organizem lá um debate entre os dois. Para o mesmo, dispensa-se a presença de claques. Obrigado!
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