Nenhum “parabéns-a-você!”, nenhum crédito social*

* No Jornal do Centro aqui

1. 

Os pórticos das nossas “auto-estradas” foram activados no funesto dia 8 de Dezembro de 2011, faz na próxima quarta-feira dez anos. 

Aquele golpe na mobilidade e na economia do interior do país não merece nenhuma celebração, nenhum “parabéns-a-você!”. 

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Pedro Nuno Santos prometeu que a duplicação do IP3 vai estar pronta em 2024, mas, pelo que se (não) tem visto, este prazo vai resvalar, e muito.

O ministro das infraestruturas prometeu também que esta “auto-estrada” não vai ter portagens. 

Fotografia Olho de Gato

A A25, completada em 30 de Setembro de 2006, aguentou cinco anos, dois meses e oito dias sem pórticos. Quanto tempo irá aguentar sem eles esta futura ligação de Viseu a Coimbra?


2

A China tem sido muito criticada por causa do seu “Sistema de Crédito Social”, em que os cidadãos são pontuados conforme os seus comportamentos. 

Se se portarem bem, se derem sangue, se fizerem trabalho comunitário, se pagarem certinho os impostos, se... , recebem pontos positivos e uma série de benefícios. 

Se se portarem mal, se criticarem as autoridades, se passarem horas nos videogames, se fizerem um calote, se... ,  levam com pontos negativos, ficam na lista negra e deixam de ter acesso a certos serviços  — a bilhetes de avião ou a crédito para a habitação ou a poder matricular os filhos numa boa escola ou a ... 

Este pesadelo distópico é possível pelo avanço chinês na inteligência artificial e nas tecnologias de reconhecimento facial (por exemplo, identificam e despontuam quem atravessar uma rua fora da passadeira).

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Ora, por causa da peste, a UE tem estado a criar uma espécie de “crédito social” à chinesa. Ter o Certificado Digital Covid dá pontos positivos (entre nós, quem o tiver pode ir ao ginásio ou ao restaurante), não o ter dá pontos negativos (na Áustria fica-se confinado em casa, na França os profissionais de saúde são suspensos).

Com a vacinação a patinar e os sistemas de saúde de novo sob pressão em vários países, percebe-se a necessidade e a premência de uma boa parte destas medidas. 

Mas não tenhamos ilusões:

— este poder extra que está a ser outorgado aos estados vai criar rotinas autoritárias que vão ser difíceis de reverter quando acabar a pandemia;

— dividir as pessoas em cidadãos e subcidadãos retira força moral à “Europa” para criticar os autocratas chineses.

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