Arranjem-me um emprego*

* Hoje no Jornal do Centro


Fotografia Olho de Gato 

No início desta semana, houve uma conversa evocativa dos 20 anos do Teatro Viriato, moderada por Pedro Santos Guerreiro, com Paula Garcia, Manuel Maria Carrilho, Ricardo Pais e Paulo Ribeiro.

Pedro Santos Guerreiro foi de um rigor impecável e, no final, fez uma síntese tão exaustiva e perfeita que deixou a plateia toda de boca aberta.

Paula Garcia esteve bem, descreveu, como lhe competia, o presente e os projectos para o futuro do teatro que dirige e que tem financiamento assegurado até 2021.

Manuel Maria Carrilho lembrou-nos naquele palco uma evidência: ele foi, de facto, o único ministro da Cultura da terceira república com meios e pensamento estratégico para o sector.

Já Ricardo Pais, sempre igual a Ricardo Pais, lá lembrou aquelas coisas dele apenas críveis à luz eléctrica, coisas dos anos 80 em que façanhudos parolos viravam apreciadores de Cole Porter, por sua obra e graça, e dos canapés que servia nos eventos da associação comercial. Enfim, elogio em boca própria não é bonito, mas há pior e houve pior.

E o pior deixo-o aqui mesmo para o fim: o coreógrafo Paulo Ribeiro, ex-director da casa, subiu àquele palco para dizer que o Teatro Viriato precisa de um “director-artista”. Verdade. O homem desenhou no ar uma moldura e pôs a sua cara de artista lá dentro. Transformou aquela evocação histórica numa espécie de “arranjem-me um emprego”.

Será que o mesmo “director-artista” que, logo em 2003, desertou para Lisboa para dirigir o Ballet Gulbenkian, e que, depois do fiasco, regressou a Viseu para uns anos de preguiça e rotina criativa, e que ainda desertou mais uma vez para Lisboa para dirigir a Companhia Nacional de Bailado, quer agora vir, pela terceira vez, tomar conta do Teatro Viriato?

Ou será que o coreógrafo vai ficar, afinal, na Casa da Dança de Almada? No primeiro mandato, António Almeida Henriques prometeu uma Casa da Dança para Viseu, mas o edil, já se sabe, em matéria de obras é só inconseguimentos.

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