Espaço público*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
1. Terminou, no sábado, o VistaCurta — Festival de Curtas de Viseu, organizado pelo Cine Clube.
A brevidade das curtas-metragens obriga os realizadores a irem ao ponto sem rodeios. Nos documentários, é bom que se fiquem por um assunto por filme, como recomendava o Padre António Vieira para os sermões, nas ficções há que dar corda à narrativa e não a sub-narrativas.
Um festival destes deve ser um hino à concisão. Não sei se o foi porque perdi quase todos os filmes em competição.
2. Vi os nada concisos trinta minutos de “Espaço Público”, de Lucas Manarte e Bernardo Ferro, sobre a instalação em Lisboa dos Tomis, aqueles tablets enormes que também temos em Viseu, no Rossio e na Praça D. Duarte.
O filme é mau, tem uma gramática visual tosca ao serviço de uns textos enrodilhados que malham na “escala grotesca” (sic) daqueles “aparelhos insólitos” (sic).
Enquanto as palavras cascam naquela “cedência ilícita” (sic) de “espaço público” a “empresas privadas”, as imagens vão mostrando pessoas, pacatamente, a interagirem com os Tomis, nada preocupadas com aquele “assalto tecnológico” (sic).
A conversa do filme lá prossegue, pomposa como um filósofo francês, e acaba a reconhecer que o “controle privado da informação difundida é relativamente secundário” porque o “imperativo económico é subordinado à visibilidade”.
Menos mal: os Tomis saem quase absolvidos, depois deste “pensamento” mole. Absolvam-se também os autores que fazem uma selfie, perdão, um auto-retrato involuntário quando põem o narrador a confessar: “dizemos muito menos coisas originais do que achamos”.
3. A câmara de Portimão está tão falida que precisou de concessionar a manutenção de nove rotundas em troca de cedência de publicidade: oito a empresas privadas e uma ao PSD local que colocou, na sua rotunda, propaganda do partido a assustar os automobilistas e a dar ideias aos vândalos.
Compare-se este uso absurdo do “espaço público” com a utilidade social dos Tomis.
1. Terminou, no sábado, o VistaCurta — Festival de Curtas de Viseu, organizado pelo Cine Clube.
A brevidade das curtas-metragens obriga os realizadores a irem ao ponto sem rodeios. Nos documentários, é bom que se fiquem por um assunto por filme, como recomendava o Padre António Vieira para os sermões, nas ficções há que dar corda à narrativa e não a sub-narrativas.
Um festival destes deve ser um hino à concisão. Não sei se o foi porque perdi quase todos os filmes em competição.
2. Vi os nada concisos trinta minutos de “Espaço Público”, de Lucas Manarte e Bernardo Ferro, sobre a instalação em Lisboa dos Tomis, aqueles tablets enormes que também temos em Viseu, no Rossio e na Praça D. Duarte.
Fotografia de Diogo Vaz Pinto (daqui) |
Enquanto as palavras cascam naquela “cedência ilícita” (sic) de “espaço público” a “empresas privadas”, as imagens vão mostrando pessoas, pacatamente, a interagirem com os Tomis, nada preocupadas com aquele “assalto tecnológico” (sic).
A conversa do filme lá prossegue, pomposa como um filósofo francês, e acaba a reconhecer que o “controle privado da informação difundida é relativamente secundário” porque o “imperativo económico é subordinado à visibilidade”.
Menos mal: os Tomis saem quase absolvidos, depois deste “pensamento” mole. Absolvam-se também os autores que fazem uma selfie, perdão, um auto-retrato involuntário quando põem o narrador a confessar: “dizemos muito menos coisas originais do que achamos”.
3. A câmara de Portimão está tão falida que precisou de concessionar a manutenção de nove rotundas em troca de cedência de publicidade: oito a empresas privadas e uma ao PSD local que colocou, na sua rotunda, propaganda do partido a assustar os automobilistas e a dar ideias aos vândalos.
Compare-se este uso absurdo do “espaço público” com a utilidade social dos Tomis.
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