1989*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
Tem sido muito interessante acompanhar a reflexão que se seguiu ao lançamento, em Maio, do último livro de Timothy Garton Ash — “Free Speech: Ten Principles for a Connected World”.
Segundo o autor, a liberdade de expressão está na defensiva desde o prodigioso ano de 1989 e dos seus quatros acontecimentos “seminais”: a queda do muro de Berlim, o aparecimento da internet, o massacre de Tiananmen e a fatwa contra Salman Rushdie.
Quer a queda das ditaduras comunistas quer a internet são marcos luminosos, embora com zonas de sombra: o putinismo é tudo menos saudável para o jornalismo independente e a internet tanto é usada pelos maluquinhos inofensivos das teorias da conspiração nas caixas de comentários dos jornais, como é a ferramenta de mobilização de perigosos radicais religiosos.
O massacre de Tiananmen é um buraco negro informativo levado a cabo pelo “maior aparelho censório da história da humanidade”, na opinião de Timothy Garton Ash. Quantos chineses foram liquidados a 4 de Junho de 1989? Não se sabe. Também não se sabe o nome daquele homem que, no dia seguinte, sozinho e desarmado, fez parar uma coluna de tanques na “Praça da Paz Celestial”, entretanto já limpa do sangue dos manifestantes.
Mas foi a fatwa lançada por Khomeini, e que encheu a rua islâmica de ódio contra Salman Rushdie, que mais estragos causou à liberdade de expressão.
Esse terramoto intolerante de 1989 continua a ter réplicas. Uma delas foi o massacre no Charlie Hebdo, em Janeiro de 2015.
Logo a seguir a esta tragédia, Timothy Garton Ash apelou para que, num movimento global pela liberdade de expressão, fossem republicados os cartoons de Charlie Hebdo nos media de todo o mundo. “De outra maneira, o veto dos assassinos prevalecerá”, avisou ele. Infelizmente, este apelo caiu em saco roto.
Num país como Portugal, em que se desama tanto a liberdade, a edição de obras como esta é mais do que uma necessidade: é um imperativo.
Tem sido muito interessante acompanhar a reflexão que se seguiu ao lançamento, em Maio, do último livro de Timothy Garton Ash — “Free Speech: Ten Principles for a Connected World”.
Segundo o autor, a liberdade de expressão está na defensiva desde o prodigioso ano de 1989 e dos seus quatros acontecimentos “seminais”: a queda do muro de Berlim, o aparecimento da internet, o massacre de Tiananmen e a fatwa contra Salman Rushdie.
Quer a queda das ditaduras comunistas quer a internet são marcos luminosos, embora com zonas de sombra: o putinismo é tudo menos saudável para o jornalismo independente e a internet tanto é usada pelos maluquinhos inofensivos das teorias da conspiração nas caixas de comentários dos jornais, como é a ferramenta de mobilização de perigosos radicais religiosos.
O massacre de Tiananmen é um buraco negro informativo levado a cabo pelo “maior aparelho censório da história da humanidade”, na opinião de Timothy Garton Ash. Quantos chineses foram liquidados a 4 de Junho de 1989? Não se sabe. Também não se sabe o nome daquele homem que, no dia seguinte, sozinho e desarmado, fez parar uma coluna de tanques na “Praça da Paz Celestial”, entretanto já limpa do sangue dos manifestantes.
Fotografia daqui |
Esse terramoto intolerante de 1989 continua a ter réplicas. Uma delas foi o massacre no Charlie Hebdo, em Janeiro de 2015.
Logo a seguir a esta tragédia, Timothy Garton Ash apelou para que, num movimento global pela liberdade de expressão, fossem republicados os cartoons de Charlie Hebdo nos media de todo o mundo. “De outra maneira, o veto dos assassinos prevalecerá”, avisou ele. Infelizmente, este apelo caiu em saco roto.
Num país como Portugal, em que se desama tanto a liberdade, a edição de obras como esta é mais do que uma necessidade: é um imperativo.
Bom texto.
ResponderEliminarBoa reflexão.
“Seguramente, a crise traz consigo uma perda de liberdade. Quem não tem capacidade de poder educar-se para saber eleger não é livre. Não vale de nada falar de liberdade de expressão, de liberdade de reunião, de liberdade religiosa (...)quando o sistema público de ensino sofre cortes e o acesso à cultura depende do poder económico. A pobreza diminui o poder de decisão das pessoas. Se o acesso à cultura não é igual para todos, estaremos a perder boa parte da nossa liberdade". - filósofa norte-americana Martha Nussbaum.
Ocorre-me que talvez andemos precisados de mais vozes das humanidades e dos estudos clássicos nos noticiários da rádio e no pico dos telejornais.
Talvez devamos ir mais aos filósofos para não sermos "como os escravos do tempo de Sócrates".
(…)
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.
Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'