Legislativas (#4)*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
1. Os costumes da república, os resultados e as declarações dos vencedores e perdedores na noite eleitoral fizeram-nos pensar que tudo ia começar pelo escrutínio no parlamento de um governo minoritário de Pedro Passos Coelho. O PSD tinha o maior número de deputados, a que iria somar ainda os deputados “emigrantes”. Quando fomos dormir a 4 de Outubro, ninguém duvidava que competia a Passos o primeiro movimento para tentar formar governo.
Entretanto, surpresa! A esquerda de protesto, que sempre preferiu ser virgem a sujar as mãos no poder, decidiu pela primeira vez arriscar a sua virtude nuns preliminares.
Repito a metáfora da última crónica: António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins estão numa sala de cinema, a pipocar do mesmo balde, enquanto vêem “Jules e Jim”.
Se, quando acabarem de ver a obra-prima de Truffaut, aquilo resulta como no filme num “ménage-à-trois” ainda não se sabe.
O sr. Costa está feliz com os “rendez-vous” que vai fazendo à esquerda, até o “tête-à-tête” com Heloísa Apolónia o entusiasmou. Por sua vez, a direita, em pânico, tem medo que Cavaco lhe falhe, sonha com uma cisão entre os deputados socialistas, ameaça com a “rua”.
2. Como já aqui escrevi, numa noite eleitoral a voz mais importante não é a de quem ganha mas sim a de quem perde. É contra-intuitivo mas é assim nas democracias saudáveis. Quem perdeu cumprimenta o vencedor e, ao “conceder” a vitória, está a dizer que, embora não concorde com as políticas, concorda com as regras.
Nunca na nossa terceira república houve querela sobre regras ou sobre quem ganhou e quem perdeu umas eleições. Mas agora há: se ficar a governar a direita, a esquerda achará ilegítimo; se ficar a governar a esquerda, a direita achará ilegítimo.
Este sarilho enfraquece o próximo governo e vai levar a eleições antecipadas. Quanto mais elas demorarem mais o país vai apodrecer. Podem ser já na próxima primavera, professor Marcelo Rebelo de Sousa?
1. Os costumes da república, os resultados e as declarações dos vencedores e perdedores na noite eleitoral fizeram-nos pensar que tudo ia começar pelo escrutínio no parlamento de um governo minoritário de Pedro Passos Coelho. O PSD tinha o maior número de deputados, a que iria somar ainda os deputados “emigrantes”. Quando fomos dormir a 4 de Outubro, ninguém duvidava que competia a Passos o primeiro movimento para tentar formar governo.
Entretanto, surpresa! A esquerda de protesto, que sempre preferiu ser virgem a sujar as mãos no poder, decidiu pela primeira vez arriscar a sua virtude nuns preliminares.
Editada a partir daqui |
Se, quando acabarem de ver a obra-prima de Truffaut, aquilo resulta como no filme num “ménage-à-trois” ainda não se sabe.
O sr. Costa está feliz com os “rendez-vous” que vai fazendo à esquerda, até o “tête-à-tête” com Heloísa Apolónia o entusiasmou. Por sua vez, a direita, em pânico, tem medo que Cavaco lhe falhe, sonha com uma cisão entre os deputados socialistas, ameaça com a “rua”.
2. Como já aqui escrevi, numa noite eleitoral a voz mais importante não é a de quem ganha mas sim a de quem perde. É contra-intuitivo mas é assim nas democracias saudáveis. Quem perdeu cumprimenta o vencedor e, ao “conceder” a vitória, está a dizer que, embora não concorde com as políticas, concorda com as regras.
Nunca na nossa terceira república houve querela sobre regras ou sobre quem ganhou e quem perdeu umas eleições. Mas agora há: se ficar a governar a direita, a esquerda achará ilegítimo; se ficar a governar a esquerda, a direita achará ilegítimo.
Este sarilho enfraquece o próximo governo e vai levar a eleições antecipadas. Quanto mais elas demorarem mais o país vai apodrecer. Podem ser já na próxima primavera, professor Marcelo Rebelo de Sousa?
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