Guitarrada*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Há muito tempo que a política portuguesa não andava tão interessante. Pena é ser por más razões: a situação enfatua os políticos, encafua-os em fila nas televisões, arrecua-os em desassossegos, amua-os em teatreirices.

Escrevo este texto na terça-feira, 16 dias depois das eleições. Só hoje o presidente da república começou a receber os partidos. Não há ainda novo parlamento. Dezasseis dias depois.

Entretanto, a coligação de direita já “dá” mais de mil milhões de euros em concessões ao PS. O que Costa está a conceder ao bloco e à CDU para se manter ao de cima da água não se conhece mas adivinha-se.

É o nosso fado: ir de bancarrota em bancarrota.


2. Declaração de interesses — pertenço aos corpos sociais do Cine Clube de Viseu, o que me leva a falar dele aqui menos do que devia.

O CCV foi fundado em 1955 e está um pujante “sexigenário”. A cidade e a região devem muito a este colectivo que tem sabido sobreviver ao duro teste do tempo sem estrelas nem “mentores”. Um só exemplo: toda a actual “movida” estival no centro histórico começou, em 2009, com as sessões de cinema na Praça D. Duarte.


Fotografia daqui
Aproveito o pretexto de o CCV ter passado esta semana “Verdes Anos”, o clássico do “cinema novo” com a música eterna de Carlos Paredes, para lembrar um concerto do mestre da guitarra em Viseu, no final de 1989, organizado pelo CCV e a Acert para o Auditório Mirita Casimiro, no tempo em que esta sala de espectáculos não tinha as teias de aranha de agora.

Carlos Paredes era um génio modesto e tímido. Ele chegou a Viseu muito constipado e foi levado ao Hotel Avenida para descansar antes do concerto. O José Rui Martins, da Acert, pediu na recepção que levassem um chá ao músico e, quando o foi lá buscar, encontrou um Carlos Paredes muito melhor e entusiasmadíssimo.

«Sabe,» contou ele, «são uma simpatia aqui. Até me trouxeram um chá ao quarto. Mandei entrar a senhora e, como não sabia como lhe agradecer, toquei-lhe uma guitarrada...»

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