Legislativas (#3)*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Tal como em 2009, as eleições de domingo vão resultar num governo minoritário. A maioria de esquerda de há seis anos com 128 deputados foi estéril, a de agora com 122 estéril vai ser.


A esquerda está mais fraca e essa fraqueza reside no PS que, desde a bancarrota financeira e ética do socratismo, nunca mais pôde com uma gata pelo rabo (o deputado do PAN me perdoe a metáfora).

Em 2009, Sócrates sabia que era impossível um “ménage à trois” com Louçã e Jerónimo. Agora, seis anos depois, temos a mesma matemática e o mesmo amor. Costa e Jerónimo nunca vão ser o “Jules e Jim” de Catarina Martins, nem que os fechemos aos três na mesma sala a ver, em sessões contínuas, a obra-prima de Truffaut.

A maioria de esquerda há-de servir para acabar com o aconselhamento psicológico obrigatório às mulheres antes de um aborto, essa aberração que a direita impôs já este ano, e há-de servir para outras matérias civilizacionais. Por exemplo, na eutanásia. E há-de servir para impedir alguns excessos da direita. Para pouco mais servirá.

2. Pedro Passos Coelho teve nervos de aço e adoptou uma estratégia nada intuitiva: quanto menos fizesse ou dissesse, melhor.

A esta campanha zen e breve da direita, respondeu Costa com um longo e arrastado chorrilho de asneiras — socratizou em Outubro e syrizou em Janeiro; entregou as listas ao aparelho em vez de fazer primárias e encerrou a campanha com uma ideia eleitoralmente tóxica: galambizar, perdão, chumbar o orçamento mesmo ainda antes dele estar feito.


3. Mesmo depois de quatro anos duros, a direita viseense conseguiu ganhar em todos os concelhos e manter os mesmos seis deputados. Mérito de Mota Faria, demérito de António Borges, o líder distrital do PS.

Em 2013, António Borges escolheu para lhe suceder em Resende um fraquíssimo presidente da câmara. Em 2014 arrastou o concelho para o beco-sem-saída segurista. Abusou daquela boa gente e agora levou a paga: nem lá conseguiu ganhar.

Comentários

  1. VOLTINHAS POPULARES

    “Não vires o bico ao prego
    Porque o pregar tem dois bicos:
    Se virares, com teu apego,
    O bico, coração cego,
    Pagarás depois os micos.”

    As razões da derrota de António Costa são múltiplas, mas há uma a que dou especial relevância: Costa não conseguiu estruturar um discurso que passasse uma mensagem clara aos cidadãos e que fosse alternativo ao simplismo da coligação. Costa não conseguiu transmitir aquilo de que mais se orgulhava e tentou vender nos cartazes: confiança.

    Mas o assunto agora não é o balanço do que foi, é a expectativa do que será.

    E neste contexto, há muitos anos que penso e defendo o que vou escrever a seguir.
    Este momento político pode ser breve e inconclusivo mas terá que dar resposta a uma pergunta que muitos fazemos há tanto tempo: a direita tem o monopólio de acordos, coligações, entendimentos….?

    Não sei como será o amanhã, mas estou a gozar o momento, a gozar o cagaço da direita (basta ver o título do Público de hoje (sábado 10 Out) – como se fosse obrigação de Costa apresentar propostas de entendimento a Passos/Portas) e dos comentadores “bem pensantes” completamente baralhados.

    O dito presidente de uma República já tinha “tudo” pensado, mas por esta não esperava.
    E dentro do PS as declarações dos “Lellos”, bem representados em Viseu, que anseiam por um regresso às “abstenções violentas” e apoiam uma candidatura presidencial favorável à direita, deixam um vazio que alimenta a tese da sua própria impossibilidade como alternativa.

    A verdade é que o próximo governo de Portugal tem de romper com o rumo dos últimos quatro anos se quiser impedir que o país tombe na completa indigência. O governo e o Parlamento têm de aprender a viver no mundo real, em vez de fugir para o reino da fantasia. A vocação dos socialistas não é servir de muleta à Direita nem de bode expiatório à Esquerda. O PS está no centro dos debates e da construção de soluções, sem interlocutores privilegiados, porque o Parlamento é, por definição constitucional, "a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses"

    E será que não há um mínimo de denominadores comuns entre a esquerda? Claro que sim. E essencial são os valores de ABRIL – justiça social, reforço da escola pública, do SNS e do sistema de pensões, para já não falar da reposição imediata dos feriados do 5 de outubro e do 1º de dezembro, bem como no reforço dos direitos dos trabalhadores, da contratação colectiva, no aumento do salário mínimo…

    “Sejamos realistas, peçamos o impossível”, não era esse um slogan de Maio 68? A tese de que o PS se tramou porque virou à esquerda carece de comprovação factual. Alinhar pela retórica sem estratégia, apenas porque sim, esquecendo a realidade sociológica e política do Portugal democrático, seria um erro clamoroso, ditado por uma teimosia sem visão, só capaz de reforçar a vitória da direita, oferecendo-lhe “de bandeja” mais uma década de poder, e em circunstâncias de fácil destruição do Estado e direitos sociais. Mas, para aqueles que “à esquerda” vaticinaram o fim das ideologias, que “isso de esquerda e direita já era”, que agora a retórica florida bastaria para convocar as massas e inebriar os movimentos sociais, atenção... muita atenção... a realidade... chegou. E por tudo isto gostava que o PS não confundisse “a estrada da Beira, com a beira da estrada”.

    A concluir: quais as minhas expectativas? Reduzidas. Pois eu sei, tu sabes, ele sabe, que quem manda são as multinacionais (nas suas múltiplas formas). O estado deixou de ser a encarnação da soberania do povo para se tornar uma central de interesses onde os princípios democráticos são apenas pretexto.

    Mas dá um certo gozo, mesmo (podendo ser) passageiro!


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  2. Bem haja NOVE a ZERO!

    De Angola chegam relatos que ‪Luaty‬ Beirão, detido desde junho, se encontra em estado crítico. O artista conhecido como ‪‎Ikonoklasta‬, que tem dupla nacionalidade, está há 18 dias em greve de fome. Protesta contra o facto de ter sido preso com outros 14 jovens por se reunirem pacificamente para discutirem a democracia em ‪‎Angola‬.

    “Somos todos Charlie”? Uma PORRA !

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