Secas*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 19 de Agosto de 2005
1. Estamos em seca aguda. Este ano ainda não houve um dia de chuva a sério. Há torneiras secas em muitos concelhos do país. Há povoações a serem abastecidas por camiões cisternas.
Já se começa a falar em projectos de dessalinização da água do mar (!).
As imagens que nos chegam das nossas explorações pecuárias, com o gado pasmado, magro e cheio de sede, deixam-nos com um nó na garganta.
Era bom que chovesse. Era bom que a chuva, uma chuva que se visse, nos estragasse as férias.
Era bom que chovesse e que a chuva apagasse os fogos.
2. A seca é má para as nossas vidas mas é boa para o trabalho dos empreiteiros. Um Inverno sem chuva fez com que as obras públicas avançassem mais rapidamente.
Para além da eficácia da Lusoscut e da Mota & Companhia, o avanço na construção da A25 deve-se também às condições climatéricas deste ano.
Na edição de sábado do jornal Público afirma-se que a A25 está pronta desde o nó de Vouzela até ao mar. Para quem circula naquela estrada não parece. É ainda preciso fazer uns quilómetros junto ao nó de Vouzela. Mas, de certeza absoluta, pelo menos a partir do nó de Oliveira de Frades para oeste, a A25 está mais que pronta.
Temos horas e horas de filas compactas de trânsito a circularem em meia auto-estrada e a outra meia auto-estrada sem nada, vazia, a acumular pó e fagulhas dos incêndios.
Segundo revela o Público, o Instituto das Estradas de Portugal (IEP) não autoriza a abertura ao trânsito do troço, cujo calendário de conclusão apontava para o fim do ano.
A abertura imediata daqueles quilómetros de auto-estrada era, ainda por cima, um bónus de quatro meses e meio. O Estado só vai começar a pagar as portagens virtuais em Janeiro, conforme prescreve o contrato.
A Lusoscut foi ameaçada pelo IEP com uma multa de 30 mil euros quando, em Novembro de 2003, sem autorização da tutela, antecipou quatro meses a abertura entre a Guarda e Vilar Formoso. Agora não quer, compreensivelmente, que se repita o mesmo filme.
Deva-se dizer que, em negócios desta escala, uma multa de 30 mil euros “não aquenta nem arrefenta” para a contabilidade da concessionária, mas que chateia, lá isso chateia.
Continuemos, portanto, a secar, a 60 à hora, atrás dos camiões.
3. Parece uma maldição matemática: de 8 em 8 anos, as eleições autárquicas são uma seca.
Em 93 e 2001, houve luta política forte e as eleições autárquicas foram interessantes. Em 93, anunciava-se o descalabro cavaquista e, em Viseu, José Junqueiro interpretou bravamente esses tempos heróicos. Em 2001, as autárquicas foram duríssimas e levaram ao fim do guterrismo. Os candidatos socialistas levaram um valente cartão amarelo (em muitos casos, vermelho). Em Viseu, eu levei um amarelo e os boys socialistas levaram um vermelho.
As autárquicas de 1997 foram politicamente fracas. Oito anos depois, em 2005, está a acontecer o mesmo. As eleições de 9 de Outubro parecem a feijões.
Em Viseu, tanto o CDS, como o Bloco, como o PC, ainda não saíram da toca. Está tudo tépido. Só não se pode dizer gelado porque as rotundas já estão devidamente ornamentadas pelos cartazes do PS e do PSD.
4. No dia em que escrevo este Olho de Gato, o Cândido Barbosa não conseguiu ganhar a Volta a Portugal, nem o contra relógio de Viseu.
Até no ciclismo isto está uma seca!
5. Era bom que chovesse na cabeça da Ministra da Educação a ver se ela refresca. Há risco elevado de tempestade nas nossas escolas, no próximo ano-lectivo.
6. O senhor Armando Mões disse ao jornal Público, de 13 de Agosto, que, se as coisas correrem mal para o Académico de Viseu, ele vai “perfilhar” um clube da primeira distrital para que este “(…) também aproveite as belíssimas instalações do Fontelo”.
O Fontelo já não é da Câmara?
Nota: Já depois de enviado este Olho de Gato para o jornal, foi aberto o trânsito no troço da A25 entre Oliveira de Frades e Talhadas. Pelo menos o último parágrafo do ponto 2 desta crónica ficou obsoleto. Só falta a chuva para toda esta prosa ficar completamente desactualizada. Oxalá!
1. Estamos em seca aguda. Este ano ainda não houve um dia de chuva a sério. Há torneiras secas em muitos concelhos do país. Há povoações a serem abastecidas por camiões cisternas.
Já se começa a falar em projectos de dessalinização da água do mar (!).
Imagem daqui |
As imagens que nos chegam das nossas explorações pecuárias, com o gado pasmado, magro e cheio de sede, deixam-nos com um nó na garganta.
Era bom que chovesse. Era bom que a chuva, uma chuva que se visse, nos estragasse as férias.
Era bom que chovesse e que a chuva apagasse os fogos.
2. A seca é má para as nossas vidas mas é boa para o trabalho dos empreiteiros. Um Inverno sem chuva fez com que as obras públicas avançassem mais rapidamente.
Para além da eficácia da Lusoscut e da Mota & Companhia, o avanço na construção da A25 deve-se também às condições climatéricas deste ano.
Na edição de sábado do jornal Público afirma-se que a A25 está pronta desde o nó de Vouzela até ao mar. Para quem circula naquela estrada não parece. É ainda preciso fazer uns quilómetros junto ao nó de Vouzela. Mas, de certeza absoluta, pelo menos a partir do nó de Oliveira de Frades para oeste, a A25 está mais que pronta.
Temos horas e horas de filas compactas de trânsito a circularem em meia auto-estrada e a outra meia auto-estrada sem nada, vazia, a acumular pó e fagulhas dos incêndios.
Segundo revela o Público, o Instituto das Estradas de Portugal (IEP) não autoriza a abertura ao trânsito do troço, cujo calendário de conclusão apontava para o fim do ano.
A abertura imediata daqueles quilómetros de auto-estrada era, ainda por cima, um bónus de quatro meses e meio. O Estado só vai começar a pagar as portagens virtuais em Janeiro, conforme prescreve o contrato.
A Lusoscut foi ameaçada pelo IEP com uma multa de 30 mil euros quando, em Novembro de 2003, sem autorização da tutela, antecipou quatro meses a abertura entre a Guarda e Vilar Formoso. Agora não quer, compreensivelmente, que se repita o mesmo filme.
Deva-se dizer que, em negócios desta escala, uma multa de 30 mil euros “não aquenta nem arrefenta” para a contabilidade da concessionária, mas que chateia, lá isso chateia.
Continuemos, portanto, a secar, a 60 à hora, atrás dos camiões.
3. Parece uma maldição matemática: de 8 em 8 anos, as eleições autárquicas são uma seca.
Em 93 e 2001, houve luta política forte e as eleições autárquicas foram interessantes. Em 93, anunciava-se o descalabro cavaquista e, em Viseu, José Junqueiro interpretou bravamente esses tempos heróicos. Em 2001, as autárquicas foram duríssimas e levaram ao fim do guterrismo. Os candidatos socialistas levaram um valente cartão amarelo (em muitos casos, vermelho). Em Viseu, eu levei um amarelo e os boys socialistas levaram um vermelho.
As autárquicas de 1997 foram politicamente fracas. Oito anos depois, em 2005, está a acontecer o mesmo. As eleições de 9 de Outubro parecem a feijões.
Em Viseu, tanto o CDS, como o Bloco, como o PC, ainda não saíram da toca. Está tudo tépido. Só não se pode dizer gelado porque as rotundas já estão devidamente ornamentadas pelos cartazes do PS e do PSD.
4. No dia em que escrevo este Olho de Gato, o Cândido Barbosa não conseguiu ganhar a Volta a Portugal, nem o contra relógio de Viseu.
Até no ciclismo isto está uma seca!
5. Era bom que chovesse na cabeça da Ministra da Educação a ver se ela refresca. Há risco elevado de tempestade nas nossas escolas, no próximo ano-lectivo.
6. O senhor Armando Mões disse ao jornal Público, de 13 de Agosto, que, se as coisas correrem mal para o Académico de Viseu, ele vai “perfilhar” um clube da primeira distrital para que este “(…) também aproveite as belíssimas instalações do Fontelo”.
O Fontelo já não é da Câmara?
Nota: Já depois de enviado este Olho de Gato para o jornal, foi aberto o trânsito no troço da A25 entre Oliveira de Frades e Talhadas. Pelo menos o último parágrafo do ponto 2 desta crónica ficou obsoleto. Só falta a chuva para toda esta prosa ficar completamente desactualizada. Oxalá!
Obrigado pela inclusão do meu título no teu blogue!
ResponderEliminarE boas "mensagens"!
Gostei desta da falta de água, coisa que se nota no meu rio!
Cumptºs.
Abraço!
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