Estragas-me a paz
Estragas-me a paz.
e eu preciso das minhas solidões,
de bocados mentais sem ti.
*
* *
Começo a ser doença obsessiva
ao repetir-me por poemas isto:
as tuas invasões à minha paz.
(Podia até em jeito original
por aqui umas notas sobre ti:
cf., vide: textos tal e tal)
Mas é que a minha paz fica toda es-
tragada quando te penso amor.
*
* *
Interrompi os versos por laranjas.
E volto sempre a ti mesmo que não.
É estranho que pacíficas laranjas
não me consigam afastar de ti.
E que senil te pendure outra vez
na mesma corda, as molas sempre iguais
e que se chova corra a apanhar-te,
não te vás desbotar ou romper,
ou sei lá, por húmida metáfora
ou bolorenta imagem de cordel.
*
* *
Mas é que não és tu:
sou eu que ando estragada:
as minhas solidões não as preciso
e a minha paz, coitada,
já teve a mesma sorte
que os bocados mentais de que falava
no verso três
da página anterior.
Ana Luísa Amaral
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