Se a alma te reprova — soneto 135
Fotografia de Rafael Trobat |
Se a alma te reprova eu venha perto,
Jura à cega, que o teu ardor eu fosse;
Ardor tem, como saber, sítio certo,
E assim me enchas, amor, medida doce.
Ardor enche de ardor e amor teu cofre,
Ai, lardeia-o de ardor!, e ardor apronto
E bem prova que em vazadouro sofre:
Se o número é grande, eu só não conto.
Então que eu passe em grupo sem ser visto,
Sendo um nas contas dessa feitoria;
Tem-me em nada, se te agradar registo
De que este nada em ti é doçaria.
Faz só meu nome teu amor e amor;
E amas-me então pois eu te chamo Ardor.
William Shakespeare
Trad.:Vasco Graça Moura
Comentários
Enviar um comentário