Gestos *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 10 de Julho de 2009


1. Num dos seus textos em Para Acabar de Vez Com a Cultura, Woody Allen conta como lhe é difícil seguir espectáculos de mímica: “O mimo começou então a estender um cobertor e, instantaneamente, a minha velha confusão instalou-se. Tanto podia estar a estender um cobertor como a ordenhar uma cabra.”

A expressão “o gesto é tudo” para muita gente quer dizer “o gesto diz tudo”. Ora, pelo menos a mim e a Woody Allen, falta ao gesto o GPS do sentido, falta-lhe a bendita palavra bem dita.

Quando o coreógrafo Paulo Ribeiro, no seu excelente Maiorca, esconde um bailarino e uma bailarina no meio do palco, num aparato construído com quatro tábuas altas e opacas...



... eu elaboro uma ideia do que ele e ela foram lá para dentro fazer. Mas será que uma vendedora da Zara está a pensar o mesmo que eu? E um técnico de radiologia?

Que quero dizer com isto? Eu gosto de histórias mas se me derem umas pistazinhas para compreender o enredo, agradeço.


2. Correu mundo uma fotografia de uma iraniana a fazer um pirete a Mahmoud Ahmadinejad, o presidente não eleito do Irão. 

Neste caso, é bom que este dedo médio esticado ao barbudo não propicie demasiadas segundas leituras.

3. Manuel Pinho, no parlamento, levantou as mãos com os indicadores esticados, num gesto a que normalmente se associa à ideia de “chifres”, de “cornos”, de “chavelhos”.


O gesto foi dirigido a um deputado comunista, Bernardino de sua graça, que é um apreciador das virtudes democráticas da Coreia do Norte.

Não percebi o Pinho mas vi explicado no twitter o que ele quis verdadeiramente dizer com aquela mímica:
«Bernardino, está combinado, pá! Em Agosto lá nos encontramos nas festas de Barrancos!»

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