Cortes de cabelo *

* Publicado hoje no Jornal do Centro


     1. A “Europa” aprovou um novo resgate à Grécia que vai dar para ela se segurar durante algum tempo.
     Segundo se percebe, os credores privados que emprestaram dinheiro ao estado grego vão ser os bombos da festa: por cada cem euros que eles emprestaram, cinquenta escafederam-se no ar; dos cinquenta sobrantes, quinze serão pagos no prazo (o financês agora diz “na maturidade”); os restantes 35 serão transformados em títulos de dívida a 30 anos a uma taxa de juro que os gregos possam pagar, talvez dois-três por cento.
     A linguagem desbacterizada dos “responsáveis” chama a este caloteirismo “corte de cabelo”. Diz-se agora em inglês nas televisões: foi feito um “haircut” à dívida grega.
     O problema é que os credores, em vez de um “corte de cabelo”, sentem a coisa mais como um “escalpe”. Percebem que, agora, o euro é um filme de caubóis e esperam que ele não vire um western-spaghetti. É que, ao contrário da Grécia, a Itália é demasiado grande para cair.

     2. A Polícia Moral do Iraque disse em comunicado que está a seguir “o fenómeno emo”, a que chama também “adoração do diabo”, e disse que os adolescentes que “vestem estranho” e “usam anéis nos narizes e línguas” estão a “afectar a sociedade e a transformarem-se num perigo”.
     Em sequência, grupos de extremistas religiosos apanharam dezenas de adolescentes com aspecto “emo” ou “estranho” e apedrejaram-nos até à morte. Noventa a cem adolescentes foram lapidados.
 Supostamente, um adolescente assassinado pela polícia religiosa por ter um corte de cabelo "emo" (© Al Tahreer News)
     Não admira que, a seguir, se tenha ouvido dizer nas televisões a um jovem iraquiano desorientado e em pânico: “Tenho cabelo comprido mas isso não significa que sou um emo. Não sou menos homem por usar cabelo comprido.”
     Para que se saiba: depois da criminosa guerra de Bush e Blair, o Iraque agora tem uma Polícia Moral. Que verifica “cortes de cabelo”.

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