Deus e César *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


      1. As obras na residência do bispo de Viseu permitem um novo ponto de vista naquela zona da cidade.

     Agora, atrás da fachada sobrevivente do antigo Paço Episcopal, pode ver-se o mal amado edifício da segurança social, o maior edifício da cidade.
     Tirei uma fotografia a este conjunto porque ele tem um poderoso simbolismo: em primeiro plano temos a igreja, com séculos de experiência no apoio social, e atrás, em segundo plano, temos os serviços sociais do estado.
     Esta fotografia é simbólica: ela pode ser vista como a marca da tensão sempre latente entre os dois principais protagonistas no serviço social aos cidadãos: a igreja e a burocracia estatal. A tensão entre o que é de Deus e o que é de César.
 

      2. A burocracia social do estado não pára de ganhar adiposidades. Começam até a aparecer, aqui e ali, estruturas que são burocracia da burocracia. É o caso do CAADS onde João Cruz, o último vice-presidente distrital da segurança social em Viseu, se propõe agora manter-se no ramo vendendo intermediação burocrática e formacional às IPSS.
     O programa de emergência social que o governo apresentou em Agosto alivia o garrote regulamentar sobre as IPSS mas está longe ainda de tirar poder à tecnocracia social.
     Há maneiras de evitar o aumento de custos e a ineficácia do trabalho social directo do estado. Por exemplo, Bill Clinton em 1997, com a sua “Faith Based Initiative”, entregou directamente às igrejas a assistência nas periferias urbanas mais degradadas.
     Há é que, como diz Daniel Innerarity em O Futuro e os Seus Inimigos: “impedir que essa transferência de execução se converta numa cessão de responsabilidade. Por definição, a responsabilidade não é delegável embora as acções o sejam. O sujeito da responsabilidade é obrigado a responder pelos resultados da acção.”

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