Sonhos Rotos
Era uma vez um homem que, como todos os homens, tinha um sonho.
O homem tinha escrito um livro com histórias dentro e queria que outros homens lessem as histórias dentro do livro que ele escrevera sobre outros homens.
Como nenhuma editora o quisera publicar, então, para grandes males grandes remédios, o homem que, como todos os homens, tinha um sonho, não desistiu do sonho, o que já não é para todos os homens, e ele próprio fez uma edição própria e apropriada, de capa dura, e folhas encadernadas, e páginas ordenadas, um livro igual aos outros mas melhor que todos os outros, porque era o livro dele, à venda em todas as livrarias da cidade.
Passaram-se primaveras e verões, folhas nasceram, folhas caíram das árvores, passaram-se natais de comprar livros, e aniversários de oferecer livros, passaram-se anos, mas nenhum livro do homem que tinha um sonho se vendeu. Ninguém os comprou, e ninguém os leu, e ninguém quis saber das histórias que aquele homem tinha metido dentro do livro.
Anos depois deste acontecido, o homem que escrevera um livro de histórias que ninguém lera soube de um teatro para os lados de Carregal do Sal que queria livros para usar num espectáculo.
Então ele meteu todos os seus livros num caixote e deixou-os à entrada do teatro, de noite, sem ninguém ver, sem nada dizer a ninguém.
No sábado, dia 9 de Julho, ele, o homem que tinha um sonho, foi à estreia a Oliveirinha, à Naco.
No sábado, dia 9 de Julho, ele, o homem que tinha um sonho, foi à estreia a Oliveirinha, à Naco.
E então, para alegria dele, viu os seus livros serem porta, viu os seus livros serem parede, viu os seus livros serem moldura, viu os seus livros serem almofada, viu os seus livros serem base, viu os seus livros serem fuste, viu os seus livros serem capitel, viu os seus livros serem pináculo de catedral *, viu os seus livros serem asas…
Fotografia de José Figueiredo |
… viu então os seus livros serem vida …
… viu então que os seus livros já não eram
Sonhos Rotos
Interpretação e co-criação:
Rafaela Santos, Miguel Lemos, Sofia Valadas
Direcção Artística:
Rafaela Santos
Dramaturgia:
Fernando Giestas
Consultoria Artística:
Cristina Carvalhal
Desenho de luz:
Jorge Ribeiro
Desenho de som:
Tiago Cerqueira
Figurinos:
Rafaela Mapril
* Daqui
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