A senhora Merkel *
* Este texto foi publicado hoje no Jornal do Centro
Robert Musil, no seu “Homem sem Qualidades”, lembra que, para nos podermos amar uns aos outros, precisamos de um estado capaz de nos impor isso.
Musil refere uma evidência: quando a autoridade do estado colapsa, a lei do mais forte invade as ruas e “proíbe” o amor. A história da civilizada Europa está cheia desses exemplos de barbárie — o mais recente aconteceu há menos de 20 anos em Sarajevo.
Ora, desde a primavera do ano passado, quando foi necessário resgatar a Grécia, não tem parado de aumentar o “desamor” entre os europeus.
O que os alemães, os checos, os holandeses e os finlandeses pensam dos países corruptos do sul não é agradável. A Focus alemã pôs na capa a Vénus de Milo a fazer um valente pirete aos gregos aquando do resgate de 2010.
Por sua vez, nos países do sul está na moda dizer mal da senhora Merkel, lado para onde ela melhor dorme já que a elite política alemã já não sente, nem tem que sentir, nenhum complexo de culpa pelo pesadelo nazi – é que já passaram 66 anos sobre a morte de Hitler no seu bunker.
Regressando à ideia de Musil: se as pessoas precisam de um estado para as obrigar a amarem-se umas às outras, os estados que integram a “Europa” não precisarão de uma autoridade superior para os obrigar a fazerem o mesmo?
Infelizmente, a União Europeia — o primeiro “estado pós-moderno” do mundo (designação de Robert Kagan) — é dirigido por uma burocracia não-democrática, cara e impotente (Durão Barroso é uma irrelevância inventada pelo sr. Blair).
Sem surpresa, nestes últimos 15 meses de turbulência ninguém quis saber para nada do senhor Barroso, mas criou-se um mercado mediático especialista na interpretação das palavras e dos estados de alma da senhora Merkel.
Porque são só os alemães a votar na Alemanha?
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