Chalupas há muitos*

* Hoje no Jornal do Centro aqui

1. Comecei a escrever este Olho de Gato no dia e na hora em que Trump e Musk se pegaram nas redes sociais. Maravilhoso. Como diz o povo, ralham as comadres, sabem-se as verdades. Enquanto bato teclas está o mundo a pipocar e a divertir-se com as desavenças daqueles dois chalupas.


2. Há uma semana, Josep Borrell esteve em Viseu para participar na conferência da primavera do “BEIRA – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão” dedicada às “crises” da União Europeia. Aquele peso pesado da política — ministro de Felipe González e de Pedro Sánchez, presidente do parlamento europeu, vice-presidente da comissão europeia e Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança — fez uma intervenção muito boa e realista, com o título “La Unión Europea sin EE. UU”, em que não escondeu os quatro maiores problemas de Bruxelas:

Fotografia Olho de Gato
(i) a economia (estagnada, a perder terreno para os EUA e a China);

(ii) a demografia (o inverno demográfico, a pressão imigratória, as tensões daí decorrentes);

(iii) a duplicidade moral (a Europa preocupa-se com os mortos ucranianos mas não com os mortos em Gaza);

(iv) a tecnologia (Borrel aqui não detalhou, mas também não é preciso, tirando a Airbus, no resto as empresas europeias estão a ficar para trás).

Deixo aqui três afirmações originais do conferencista, uma referente ao passado, outra ao presente e outra ao futuro:

— a construção europeia no seu início quis também integrar formas de cooperação militar, mas esse processo foi abortado pela França (houve oposição feroz dos gaullistas e dos comunistas);

— contrariamente ao que trompeteia o inquilino da Casa Branca, o défice externo dos EUA com a UE é irrelevante e, mesmo assim, esse desequilíbrio minúsculo é só com um país, a Irlanda, e é causado pelas grandes tecnológicas norte-americanas sediadas no país da cerveja Guiness e dos impostos baixos;

— o Sahel é o outro lado do inverno demográfico europeu, as taxas de fertilidade naqueles países africanos (apoiados militarmente pela Rússia) são as maiores do mundo e uma ameaça ao futuro da UE. Esta deve começar a investir já e fortemente na educação e no empoderamento daquelas mulheres.

3. Depois de Josep Borrell ter acabado de falar, ouviu-se uma mulher aos berros. Pensei logo para os meus botões: «Ó diabo! Está cá malta do juiz anti-vacinas!»

Aquela minha suposição fazia todo o sentido porque, como se sabe, é a extrema-direita quem mais tem perturbado sessões culturais como aquela que estava a ocorrer no Politécnico de Viseu. Afinal, enganei-me. Desta vez, a cena chalupa foi feita por gente do bloco de esquerda — enquanto uma criatura vociferava, outra filmava a performance para as redes sociais. Que tenha dado conta, não foi atirada tinta contra ninguém. Do mal o menos.

Comentários

  1. Caro Sr Joaquim Alexandre Rodrigues, Aconselho-o a ter mais cuidado com as inverdades que faz na sua crónica. digno de quem tem uma capacidade lexical reduzida, que não me parece ser o seu caso. Gostaria sei que os ataques ao Bloco de Esquerda assumem centralidade nas suas crónicas, mas não vale tudo. É falso que a munícipe que exerceu o direito à indignação seja do BE, tal como quem registou a intervenção. Acresce que o termo "chalupa" é no mínimo deselegante. Entretanto estava tão empenhado no ataque a quem denunciava o genocídio em Israel, que omitiu na sua crónica as afirmações de Josep Borrell que defendeu a necessidade de UE sancionar Israel pelo genocídio em curso.

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  2. Apercebi-me de que o meu comentário sobre a sua crónica, em que apontei inverdades que integravam a sua crónica não seguiu devidamente assinada. Não tenho por hábito esconder-me no anonimato. Sou a Graça Marques Pinto. Fique bem

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  3. Cara sra. Graça Marques Pinto,
    a pobreza lexical e o atropelo aos factos e à lógica dos seus comentários aconselhariam a que não gastasse energia a responder-lhe.

    Apesar disso, lembro-lhe que:
    — perturbação de eventos culturais neste país, nos últimos tempos, costuma ser coisa da extrema-direita (designadamente das organizações do juiz "chalupa"), que usa exactamente o mesmo modus operandi (uma criatura faz o banzé e outra o registo para as redes sociais) conforme se poderá ler no comunicado de vinte entidades do sector do livro linkado acima no meu texto e que pode ver aqui: https://rr.pt/noticia/vida/2024/07/08/editoras-livrarias-e-bibliotecarios-pedem-intervencao-do-governo-para-evitar-ataques-a-escritores/385438/;
    — na conferência no Instituto Politécnico, gente do bloco de esquerda e/ou aparentados (antigamente, dizia-se "compagnons de route") fez o mesmo, emulou os fascistas do ergue-te, berrou, vociferou, filmou para as redes sociais, "chalupou" sem elegância nenhuma.

    Ergue-te e bloco --> les beaux esprits se rencontrent.

    Passe bem!

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