Taxas e destaxas *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 27 de Fevereiro de 2015



1. O parlamento avança para a aprovação da taxa sobre os dispositivos electrónicos com memória (telemóveis, pens, computadores, boxes, ...), taxa que se aplica mesmo a aparelhos onde só vamos ter fotografias e vídeos pessoais.

As receitas obtidas vão ser geridas por uma putativa “Associação para a Gestão da Cópia Privada” que, por sua vez, as vai distribuir pelas associações de gestão de direitos de autor que, por sua vez, dividirão a receita sobrante por autores (40%), intérpretes (30%) e produtores (30% ). O que ultrapassar 15 milhões de euros vai para a fome de fomentar do “Fundo de Fomento Cultural”.

Há sempre um lobby capaz de pôr políticos a tirarem dinheiro aos cidadãos em seu benefício.

Um smartphone novo, com mais esta alcavala, poderá ficar mais caro quinze euros. Isto é uma taxa ou uma taxona, ministro Piiiires de Liiiiima?

Ensaio completo publicado no Guardian aqui
2. Perante isto, há que achar os países sem esta taxa ou com uma menor para fazermos as nossas compras e perceber que a conversa dos “direitos de autor” em tempos de partilha online anda muito mal contada.

Para melhorarmos essa compreensão, nada melhor que procurar na net a notável reflexão feita em 15 de Novembro, no “Melbourne's Face The Music”, por Steve Albini (há décadas músico e engenheiro de som com centenas de discos editados e autor, em 1993, do importante ensaio “The Problem With Music”).

3. Quando um lobby consegue uma isenção, em vez de uma taxa passamos a ter uma destaxa.

Eis um exemplo recente de destaxa: os 1,8 milhões de euros perdoados ao Benfica pela câmara de Lisboa. Isenção que, graças ao alarido público, vai agora ser chumbada na assembleia municipal.

Os políticos não aprenderam nada com a bancarrota de 2011. Não aprenderam eles mas aprendeu a opinião pública que reagiu com violência a esta pouca-vergonha.

O país parece preparado para pregar um susto eleitoral aos partidos do sistema. É só aparecerem protagonistas novos credíveis.

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