Gente má *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 9 de Janeiro de 2015


1. O padre João Pedro Cardoso, capelão do Hospital de Viseu, contou a este jornal que um filho “ao deixar o pai doente num hospital disse aos enfermeiros que na carteira estava um cartão com os contactos de quem trataria do que fosse necessário. Esse cartão era de uma funerária.”

Uma crueza destas faz-nos lembrar que as pessoas têm dias, umas vezes são boas outras vezes são más. E que há gente mesmo reles.

2. Ricardo Raimundo acaba de publicar um livro sobre “reis cruéis, traidores, mulheres fatais, assassinos e gente de má rês” intitulado “Os Maus da História de Portugal”. Qualquer admirador de cinema negro começa a ler o livro no terceiro capítulo dedicado a "mulheres fatais causadoras de desgraça".

Uma delas foi D. Mécia Lopes de Haro, acusada de «artes diabólicas» para manter «enfeitiçado» o seu esposo, D. Sancho II. A rainha era forte, o rei fraco, o reino, esse, estava dividido no partido de D. Sancho e no do seu irmão D. Afonso.

Os partidários de D. Afonso acabaram por conseguir que o papa Inocêncio IV, em 1245, depusesse D. Sancho e reconhecesse D. Afonso como rei. Deu guerra civil, claro.

No verão de 1246, um grupo de cavaleiros entrou na guardadíssima fortaleza de Coimbra, conseguiu, estranhamente, adentrar-se nos aposentos de D. Mécia e raptá-la. A seguir, mais estranhamente ainda, levou-a para o Castelo de Ourém, propriedade dela. D. Sancho, desarvorado, arrancou com os seus melhores homens para libertar a sua amada. Mas ela recusou-se a regressar. Aquele rapto afinal tinha sido fita. Para manter os seus bens, D. Mécia bandeou-se para D. Afonso. O fraco D. Sancho, esmurchido pela traição da mulher, partiu para o exílio e morreu dois anos depois.

3. José Sócrates vai, como disse António Costa, poder defender em tribunal a “verdade em que acredita”.

E convém lembrar: os problemas de “liquidez” do ex-primeiro-ministro não fizeram dele um preso político. Em democracia não há disso.

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