O sonho da linguagem
Daqui |
Escreverás sobre a sujeição dos animais.
Mas não hoje. Lembra-te de como se move
a pantera, ainda, na jaula sem literatura
que lhe legaram. Lembrar-te-ás. Mas não hoje.
Porque hoje é o dia em que as metáforas
despertam, a arca se abre, e a linguagem
se assemelha a uma invenção em aberto.
Uma vigília de metáforas preenchendo a noite,
como um Fogo-de-Santelmo que, eternamente,
a cobrisse, a si e ao seu manto e aos seus símbolos.
Hoje é o dia em que a noite se faz dia,
em que a linguagem celebra os animais
depois dos animais terem perecido,
mas sem que haja memória disso,
sequer nostalgia disso. Apenas linguagem,
apenas sentido e som a ressoar dentro
do sentido, sem que a hipótese de um princípio
se imponha, sem que a hipótese de um fim
_________se imponha.
Haverás de despertar, tu também,
para a vigília das metáforas,
para o sonho da linguagem.
Luís Quintais
Comentários
Enviar um comentário