Corrupção impune*

* No Jornal do Centro, nas bancas e aqui

Corruptos há muitos, presos é que poucos ou nenhuns. Ficando-nos pelo dois principais responsáveis pela bancarrota de 2011, que tanto sofrimento causou aos portugueses: José Sócrates está “prescrito”, Ricardo Salgado nunca vai precisar de apanhar o sabonete no duche da Carregueira.

Esta impunidade arrasta o país para baixo, mas, enquanto foi primeiro-ministro, António Costa não mexeu uma palha neste combate.

Pelo contrário, tratou de correr Joana Marques Vidal, a Procuradora-Geral da República que estava a fazer um bom trabalho

Pelo contrário, escolheu para procurador europeu o segundo classificado no concurso, deixando de fora uma menos acomodatícia primeira classificada.

Pelo contrário, a Entidade para a Transparência — criada em 2019 para fiscalizar as declarações de rendimentos, património e interesses dos políticos — arrasta-se há quatro anos num nem-prá-frente-nem-pra-trás.

Daqui
Pelo contrário, fez esta semana também quatro anos que António Costa, perante a pressão da opinião pública, empaliou o país com a criação de um “grupo de trabalho” para parir uma putativa “estratégia nacional, global e integrada de combate à corrupção”. 

Já se sabe, quando não se quer fazer nada, cria-se um “grupo de trabalho”. No dia desta decisão do conselho de ministros, critiquei-a assim nas redes sociais:

“Ajustes directos aos amigos? É para tudo e um par de botas.

Complicómetro legislativo? Cada vez mais intrincado.

Dentro os corruptos depois de condenação em segunda instância? Nem pensar nisso, até o Brasil se deixou dessas coisas. 

Colaboração premiada para quebrar a omertá corrupta? Está quieto!

A primeira geringonça não ligou nada ao problema da corrupção, a segunda (...) quer ir pelo mesmo caminho.

Até um dia em que os milhões de eleitores que já não vão votar — os mais pobres e menos escolarizados — decidam interromper a abstenção e votar num demagogo populista.”

As pessoas estão fartas de tanta ladroagem impune, mas os partidos do sistema têm outras prioridades e estão a cometer um erro perigoso: estão a deixar o Chega sozinho a deitar gasolina para cima deste fogo. 

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